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Fleury nega ordem para invadir Carandiru

Em depoimento no 2º dia de júri, ex-governador disse que titular da Segurança Pública tinha autonomia para decidir

Ex-secretário também depôs e disse que autorizou a ação, mas delegou a decisão ao coronel Ubiratan

DE SÃO PAULO

Convocado como testemunha de defesa dos policiais julgados por suspeita de participar do Massacre do Carandiru, o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho negou ontem ter dado a ordem para a Polícia Militar invadir o presídio, mas assumiu ter "responsabilidade política" pelo fato.

Também afirmou que não tinha obrigação de ir à unidade, mesmo após saber da existência de um número grande de mortos, nem de acompanhar as investigações.

A ação policial, ocorrida em 2 de outubro de 1992, deixou 111 presos mortos.

Segundo Fleury, seu secretário da Segurança Pública na época, Pedro Franco de Campos, tinha autonomia para decidir sobre a invasão.

Campos, que depôs em seguida, disse que autorizou a operação, mas delegou a decisão ao comandante do policiamento metropolitano, coronel Ubiratan Guimarães, morto em 2006.

"O sr. está aí. Avalie a situação. Havendo necessidade de entrar, o sr. pode entrar", disse o então secretário ao coronel que comandou a invasão ao Carandiru.

ENTRADA LEGÍTIMA

Mais magro do que na época e de cabelos totalmente brancos, o ex-governador Fleury chegou a irritar-se com Ieda de Souza, defensora dos réus, que insistia em perguntar o porquê de ele não ter acompanhado as investigações ou ido ao presídio no dia --quando foi informado dos distúrbios na unidade prisional, ele estava em Sorocaba (a 99 km de São Paulo).

"[O episódio] era um problema menor?", provocou ela.

"Não. Foi um problema grave que atingiu a minha administração. Eu sempre disse: a responsabilidade política do episódio é minha. Minha. De mais ninguém. Eu era o governador. A responsabilidade criminal caberá aos jurados esclarecer", respondeu ele, em tom de voz mais elevado.

O objetivo da defesa é convencer os jurados de que a decisão de invadir a unidade não cabia apenas à PM. O ex-governador e o ex-secretário negaram, porém, ter dado a ordem, apesar de apoiá-la.

"Diante de todas as informações que recebi posteriormente, a entrada foi absolutamente necessária e legítima. A omissão da polícia é tão criminosa tanto quanto qualquer ação", disse Fleury.

Segundo ele, havia informações sobre presos mortos e feridos, além de um incêndio. Testemunhas ouvidas até ontem, segundo dia do júri, não confirmaram essa versão.

Diante dos 24 réus presentes (dois não compareceram por motivo de saúde), o ex-governador não quis criticar a ação dos PMs. Negou ter dito aos jornais, entre eles a Folha, logo após o caso, que a ação havia sido criminosa. "Não dei essa declaração. Não quis fazer esse prejulgamento."

FACÇÃO

Em uma das abordagens já esperadas, Fleury negou que o PCC tenha surgido por causa do massacre. Segundo ele, a facção criminosa surgiu após uma série de rebeliões ocorridas no governo de seu sucessor, Mário Covas (PSDB).

"O PCC, que dizem ter sido criado em razão desse episódio, até o final do meu governo era um time de futebol para disputar o campeonato interno das penitenciárias."

A defesa sustenta que a proibição da entrada da PM após o massacre causou um descontrole nas penitenciárias.

A sessão será retomada hoje, com o depoimento de parte dos réus.


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