Folha de S.Paulo

'Barrado' desde 2002, crack volta a prisões de SP

DE SÃO PAULO DO "AGORA"

Barrado desde 2002 pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) nos presídios paulistas, o crack voltou a ser encontrado com detentos em unidades da capital, do litoral e do interior.

A Folha teve acesso a 532 registros de apreensões em penitenciárias e constatou que em, ao menos quatro ocasiões, a droga foi encontradas nas celas. Na última, em outubro, foram 25 pedras no Centro de Detenção Provisória Belém, na zona leste.

"Não é sempre que apreendemos crack. Mas, nos últimos anos, agentes têm achado algumas pedras", disse Luiz da Silva Filho, diretor do Sifuspesp (sindicato de funcionários do sistema prisional).

As mortes violentas de presidiários, motivadas por dívidas de droga, levaram o PCC a vetar o consumo do crack nas cadeias dominadas por ele. Com a proibição, as mortes cessaram. Antes, os devedores pagavam seus débitos inclusive obrigando parentes, como irmãs e mulheres, a manter relações sexuais com credores.

MACONHA

Oficialmente, qualquer droga ilícita tem entrada proibida. Dois diretores de unidades, porém, relataram à Folha que a maconha ainda é, de certa forma, tolerada, porque elas deixam o detento mais tranquilos. O problema é quando usam outras drogas, como cocaína e crack.

Para especialistas, a volta do crack às cadeias se deve ao preço caro da cocaína.

"A prisão é um ambiente inóspito em que algumas pessoas precisam de uma fuga'. Como estão trancados eles fogem' por meio de vícios, e o crack é um deles", afirmou o sociólogo Álvaro Gullo, professor da USP.

Outras drogas encontradas recentemente em prisões foram ecstasy e remédios para impotência sexual.

A Secretaria de Administração Penitenciária diz que coíbe a entrada de drogas e outros produtos ilícitos nas 156 penitenciárias paulistas.

Nos últimos anos, ao menos 239 funcionários responderam a processos administrativos por facilitarem a entrada de produtos ilegais (como celulares e drogas) e 58 foram demitidos.