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Entrevista - Jonathan Gruber

Sistema de saúde é vítima da luta partidária nos EUA

ECONOMISTA DO MIT QUE DESENHOU PLANO DE OBAMA PARA SETOR CRITICA REPUBLICANOS E DIZ QUE CONTAS ESTÃO LONGE DE FECHAR

RAUL JUSTE LORES ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

O sistema de saúde americano é o terceiro tema que mais preocupa o eleitor dos EUA (74%), atrás apenas de economia e empregos (87% e 83%) e muito à frente de terrorismo, educação ou deficit público, segundo pesquisa do instituto Pew em setembro.

O economista que desenhou o novo plano de saúde nacional, apelidado de "Obamacare", é Jonathan Gruber, 47, professor do Massachusetts Institute of Technology.

Ele foi também responsável pelo pioneiro programa universal de saúde aprovado pelo então governador Mitt Romney, em 2006.

Gruber entrou no tiroteio da campanha, já que os republicanos prometeram acabar com o novo sistema implementado por Obama.

"O plano de saúde virou vítima da luta partidária, e os republicanos querem acabar com ele só porque é obra dos democratas", disse à Folha, em seu escritório no MIT.

Abaixo, Gruber argumenta que o financiamento do sistema estava "desequilibrado", rebate a acusação de que é "socializante" e explica por que as contas ainda estão longe de fechar.

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Disputa eleitoral
Os republicanos querem derrubá-lo porque é obra democrata. Não é uma oposição ideológica, ainda que muita gente seja contra um peso maior para o Estado.
Quando fizemos o plano aqui de Massachusetts, tanto o governador republicano Mitt Romney quanto o senador democrata Ted Kennedy estiveram na assinatura do plano. Era uma ideia republicana, que atraiu as outras correntes.
Agora estão ignorando o jogo democrático. Tratam o plano de saúde como batalha, como se já não tivesse sido aprovado pelo Congresso.

Obrigação individual
Há três pés na nova lei. As seguradoras não poderão mais discriminar doentes; e todo cidadão precisará adquirir um plano de saúde, o que chamamos de mandato individual.
O terceiro pé é o subsídio aos mais pobres, como já acontece hoje. As famílias cuja renda não atinja quatro vezes o valor considerado abaixo da linha da pobreza [para uma família de quatro pessoas, o equivalente a renda inferior a US$ 92 mil, ou R$ 184 mil/ano] terão créditos tributários e subsídios para pagar suas anuidades.

Jovens adiam
Muitos jovens demoram anos para investir em um plano de saúde -acabam entrando em um quando estão mais velhos ou têm alguma doença, o que encarece tudo. Quanto menos gente contribui, mais caro é o valor para os assegurados, especialmente os mais velhos.

Hospitais vs. planos de saúde
A situação era desequilibrada. Os hospitais ficavam com a conta das pessoas que não têm plano de saúde, que chegam pela sala de emergência e têm que ser atendidas, enquanto os planos de saúde usavam mil desculpas sobre carência e condições preexistentes para não atender.

30 milhões de novos clientes
O plano equilibra essas coisas. Com mais gente segurada, os hospitais conseguem mais reembolso de suas despesas.
E os planos de saúde estão ganhando 30 milhões de novos clientes, mas sem poder fazer as mesmas exigências de antes. Acho que os dois lados ganharam -a gritaria contra o plano não veio deles.

Política de reembolsos
A grande questão para qualquer programa de saúde no mundo, aqui e em outros países, é que os custos não param de crescer.
Quem vai pagá-los? Falta inovação nessa área. Se uma pessoa faz um tratamento e volta dois meses depois, sem que nada tenha melhorado, por que o governo e o plano de saúde precisam reembolsar? Reembolsamos consultas pela quantidade, não pela qualidade.

Brigas necessárias
No orçamento de saúde, há a relação direta entre renda e custos. Quer gerir de forma mais eficiente e cortar custos? Vai ter gritaria das seguradoras, ou dos sindicatos dos médicos, ou dos hospitais. Nossos políticos ainda são fracos para pegar essas brigas.
Ainda falta muita avaliação e comparação para ver o que funciona e o que não. A tecnologia poderá ser usada para menos hospitalização, para consultas mais baratas por telepresença. Nós precisamos avançar mais.

Cobertura maior
Atualmente, dois terços dos cidadãos americanos têm plano de saúde garantido pela empresa em que trabalham, 16% têm plano bancado pelo governo, e 18% não têm cobertura alguma.
Com o novo plano, apenas 5% devem continuar sem nenhuma cobertura oficial -de gente que se nega a pagar a imigrantes ilegais. Mas o número será muito menor.
Em um mercado de trabalho onde há cada vez mais autônomos e freelancers, não podemos continuar a depender apenas dos planos das empresas que empregam.

Socializante
Desde os anos 30, governos tentam aprovar planos de saúde universais, mas são derrotados pelo medo de que seja uma proposta socializante, que obrigue o cidadão a pagar um plano. Desde o governo Reagan, aumentou a gritaria contra qualquer coisa que pareça sinal de um governo maior e mais dispendioso.

Multas
Agora é a hora de implementar a lei. A partir de 2014, haverá multas para quem não tiver adquirido seu plano, de US$ 100 a US$ 700 por ano, de acordo com a renda. Tem que esperar alguns anos. Agora é a hora do teste, de fazer ajustes e correções.


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