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Mariana Madureira e Marianne Costa

FINALISTA DE FUTURO

Raízes | www.raizes.tur.br

As turismólogas, de 30 e 29 anos, respectivamente, são mentoras da Raízes Desenvolvimento Sustentável, negócio social que busca soluções de desenvolvimento local utilizando como ferramentas o turismo e o artesanato

Desbravadoras no vale

Meninas do turismo se unem para abrir caminho para o desenvolvimento em região pobre de Minas Gerais

MARLENE PERET ENVIADA ESPECIAL AO VALE DO JEQUITINHONHA (MG)

No Vale do Jequitinhonha (MG), é comum ver só mulheres e crianças pelas ruas. É que grande parte dos homens sai para o corte de cana-de-açúcar como derradeira opção de renda.

Com a seca, as terras ficam áridas, dificultando o plantio. Por muitas vezes, a ausência masculina dura ano.

Solitárias, as mulheres passam o tempo com o artesanato. Chuva, mesmo, só nos olhos delas, que esperam ansiosas por seus homens e seus sustentos. Mas, um dia, elas viram passar por lá a esperança. Eram Mariana Madureira, 30, e Marianne Costa, 29, duas meninas do turismo à procura de artesanato.

Estudando com amor e dedicação, elas desenvolveram uma parceria que envolveu cumplicidade e profissionalismo. Começou na empresa júnior da universidade; depois fundaram, em 2006, a primeira Raízes, uma empresa de consultoria de turismo tocada por quatro mulheres.

MUDANÇA DE ROTA

Avessas ao convencional e trabalhando para clientes que as empurravam para o social, viram que era hora de seguir o que suas afinidades e o mercado sinalizavam.

Mariana e Marianne criaram então a Raízes Artesanato, que, mais tarde, ao fundir-se à consultoria de turismo, viria a se tornar uma empresa de negócios sociais da qual só as duas seriam sócias.

Em busca do desenvolvimento local, rumaram para o Vale do Jequitinhonha em 2009. Elas não conheciam a região para tamanha ousadia. O ponto mais próximo que tinham alcançado era Diamantina -o portão do Vale-, em trabalhos para a faculdade.

Nas ruas empoeiradas do Jequitinhonha, encheram uma caminhonete de mercadorias para vender na internet. Com fotos improvisadas, os produtos encalharam.

Durante todo o ano de 2010, a dupla carregou caixas para expor em feiras de vários cantos do país. Daí perceberam que, no artesanato, o patrimônio imaterial dos artistas agrega valor à obra.

"Quando estávamos presentes, vendíamos mais porque sempre contávamos a vida dos artesãos para os clientes", lembra Marianne. A partir desse roteiro itinerante por terras desconhecidas e menos afortunadas, concluíram: "Compramos experiências".

E o Vale deixara de ser apenas a literatura emblemática, um dia tão lida, da riqueza e da pobreza. Virara as meninas dos olhos de Mariana e Marianne. Mais do que isso, havia se transformado no maior ativo de sua empresa.

Atualmente, elas vivem uma espécie de simbiose. "Profissionalmente, Mariana é minha cara-metade", confessa a sócia. "Marianne tem um poder de realização", replica a outra. "As ideias brotam juntas", frisam as duas.

Decerto, parecem trabalhar por telepatia porque sempre atuam a distância. Marianne vive com o marido em São Paulo e Mariana se divide entre Belo Horizonte e o Rio, onde reside seu marido.

DIFERENÇAS

Com tantas qualidades em comum, é difícil apontar as diferenças. Mas elas mesmas se definem: "Eu sou ansiosa. Quero abraçar tudo muito rápido", analisa Marianne.

Mãe da recém-nascida Maria Luisa, ela conclui: "Quero que minha filha sinta orgulho de mim. Estou doida para que ela vá logo para os quintais do Vale. Quero que tenha pelo menos um pouco do que tive na infância. Tomar leite no curral, dormir de porta aberta, sem medos".

Mariana fez dois intercâmbios internacionais e fala inglês, italiano, espanhol e alemão. Além da calma costumeira, também exercita com frequência a intuição.

Certa vez, sua terapeuta indagou: "Mariana, por que o alemão? Tem algum parente lá?". Convicta, ela respondeu: "Não, é que eu tenho um chamado na Alemanha que ainda não sei bem qual é. Só sei que um dia farei alguma coisa com esse idioma".

IMPACTO SOCIAL

A Raízes atua em 20 comunidades do Vale do Jequitinhonha (MG), beneficiando 400 artesãos. Está finalizando um plano de escalabilidade com a Fundação Dom Cabral para dobrar a capacidade de execução de projetos até o fim de 2013

INOVAÇÃO

São pioneiras por atuarem de forma integrada em quatro vertentes: viagens de experiência, turismo solidário e voluntariado; comércio justo de artesanato; projetos de capacitação e desenvolvimento de destinos; e associativismo

TURISMO

O Brasil tem potencial para ser a 3ª maior economia turística mundial, empregando na área 9%

da população. No turismo de aventura, cultural e social, há um aumento de 20% ao ano, ante 7,5% do tradicional (Conselho Mundial de Viagem e Turismo)

ARTESANATO

Com faturamento anual bruto de R$ 52 milhões, o artesanato brasileiro garante ao menos um salário mínimo na família do artesão (Vox Populi), estimulando o associativismo, a cadeia produtiva e a abertura de pequenos negócios

0,5 por cento já foi o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Vale do Jequitinhonha, o que lhe deu o título de Vale da Miséria, equiparando-o a países africanos; hoje ao menos dez municípios ainda estão abaixo de 0,610, ante 0,718 do Brasil e 0,943 do líder mundial, a Noruega (Pnud, 2011)


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