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Juca na Copa

Respeitem os uruguaios

"No ano 2000, Franklyn Morales, um dos mais antigos e venerados jornalistas uruguaios, estava lançando um livro em que revisitava mais uma vez a Copa de 50.

Sabendo da minha presença na cidade, me convidou para o lançamento. No salão do evento havia uma mesa onde se empilhavam os livros, atrás da qual estavam sentados o próprio Morales e um sociólogo. O sociólogo falou primeiro e não me lembro bem do que disse. Daí veio Morales e seu tom era outro.

Relembrou com crescente emoção as condições desiguais da disputa, com o grande time brasileiro que já se achava campeão, o público fanático do Maracanã, a absoluta arrogância da imprensa e das autoridades brasileiras. Falou de Zizinho, Jair Rosa Pinto e Ademir.

Depois falou do Uruguai, daquele punhado de homens sem medo enfrentando tudo, Obdulio, Ghiggia, Schiaffino, onze contra cento e cincoenta mil! Levantou-se da mesa, punhos erguidos, para bradar num gran finale: foi a vitória da humildade contra a soberba!' Nesse momento me viu entre os assistentes. E surgiu imediatamente a outra face desse povo admirável.

Julgando que tivesse de alguma forma me ofendido chamou imediatamente a atenção de toda a sala para o amigo brasileiro' que lhe dava a honra de sua presença e passou a quase se desculpar pela vitória uruguaia naquele perdido 1950.

Isso, entretanto, não impediu que, para terminar, os presentes fossem convidados a ouvir a irradiação do histórico gol de Ghiggia.

De algum lugar da sala surgiram ruídos de uma gravação ancestral de meio século.

Não era possível distinguir quase nada, apenas no fim o grito de gol, intenso, porém distante, como vindo do fundo da memória. Houve um silêncio depois do gol e as pessoas começaram a se retirar.

Entre elas um homem de cabeça muito branca que recebeu muitos abraços e foi saindo majestosamente da sala. Era Roque Maspoli, o goleiro e, na ocasião, um dos poucos sobreviventes da equipe mitológica.

Todo esse ritual seria ridículo em qualquer parte do mundo. Menos no Uruguai.

Em Montevidéu, ele acaba por se revestir de uma insuspeitada grandeza, de uma nobreza quase comovedora, feita da necessidade permanente de cultuar seus heróis para manter a qualquer custo essa identidade oriental feita de bravura e gentileza.

É difícil enfrentar essa gente."


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