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Juca Kfouri

Numerólogos x Impressionistas

Entre tantas candentes polêmicas do mundo do futebol, esta é mais uma e que rende não é de hoje

O LIVRO "Os números do jogo" chega ao Brasil para apimentar uma discussão que vem desde os tempos em que Claudio Carsughi, com seu delicioso sotaque italiano, ilustrava os comentários dos jogos na rádio Panamericana, meio século atrás, com os números dos chutes a gol, escanteios, faltas etc.

Em tempos mais modernos, nos anos 80, a polêmica foi reacesa quando esta Folha passou a traduzir os embates em algarismos. A "Placar", também nos 80, fez rápida, e abortada, incursão pela área.

A prática mais que irritava, ofendia mesmo os cronistas que faziam de uma simples pelada um drama shakesperiano, como dizia o maior deles, Nelson Rodrigues.

Entre numerólogos e impressionistas, estatísticos e românticos, criou-se uma divisão em que todos tinham toda e nenhuma razão.

Porque se é de uma óbvia redundância que o futebol não se esgota numa prancheta, igualmente é pleonasmo dizer que o acaso prepondera para decidir vencedores e derrotados. Se até os fenômenos naturais que se repetem são previsíveis, mais ainda podem ser os arquitetados pelas cabeças e pelos pés e mãos dos humanos.

O segredo está em saber contá-los de maneira tal que o drama dos 90 minutos não seja reduzido nem ao tecnicismo nem apenas ao emocional. Daí aqui estar o fã número 1 de Tostão --embora uma legião deles dispute a primazia.

Pois o livro dos dois norte-americanos Anderson e Sally, acrescido de um subtítulo provocador "Por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado", pela Editora Paralela, traz 336 páginas para enriquecer nossos botequins, nos quais só entendem de futebol, como bem sabemos, os que pensam como você e eu pensamos.

Repletos de lógica e, o que é melhor, ou pior, de sarcasmos e finas ironias, os autores procuram trazer para o futebol o que outros esportes estão cansados de conhecer. Com um saboroso prefácio do nosso PVC --e só poderia ser dele.

Ora, se o Sobrenatural de Almeida continua presente nos gramados pelo mundo afora, quem garante que não foram as estatísticas que permitiram a São Victor defender o pênalti contra os mexicanos?

Certamente entre os que odiarão o livro estarão os que, para desqualificá-lo, dirão que só poderia sair da cabeça de dois nativos de um país até hoje incapaz de entender a beleza do jogo. Mas terão que contra-argumentar diante de afirmações como esta: "O jogo bonito é deliberadamente ignorante". Atenção: nem feio, nem ultrapassado, nem maçante, mas, ignorante. Quantas coisas são feitas à perfeição sem que se saiba por que são feitas?

Ou como estas: "Os números podem nos ajudar a ver o jogo sob uma luz diferente. Aquilo que sempre fizemos não é necessariamente aquilo que devemos fazer".

Negue se for capaz. Mas leia.


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