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Crítica - Drama

"Gatsby"perde o lado obscuro do personagem

Nova versão do romance de F. Scott Fitzgerald para o cinema não penetra no aspecto negro do sonho americano

RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA

Uma adaptação cinematográfica de "O Grande Gatsby" por Baz Luhrmann é, convenhamos, um alvo fácil para críticas.

O grande romance americano do século 20, com a prosa refinada de F. Scott Fitzgerald, transformado em filme por um cineasta assumidamente kitsch e em curva descendente na carreira (do celebrado "Romeu + Julieta" ao questionado "Moulin Rouge" ao desprezado "Austrália").

Vamos combinar: é um prato cheio para um pensamento do tipo "socorro! os filisteus estão se apropriando da alta cultura!". Mas há algo de muito apropriado na escolha de Luhrmann para comandar a terceira adaptação do livro para o cinema.

Grosso modo, o livro conta a história de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), milionário misterioso que promove festas extravagantes em sua mansão na esperança de atrair sua antiga amada Daisy (Carey Mulligan), agora casada com Tom Buchanan (Joel Edgerton), de família rica e tradicional.

No livro e no filme, a história é narrada pelo ponto de vista de Nick Carraway (Tobey Maguire), primo de Daisy, vizinho de Gatsby e alter ego de Fitzgerald.

A atitude do cineasta em relação ao espectador é a mesma de Gatsby diante de Daisy: impressioná-lo pelo excesso; seduzi-lo com falsos brilharecos, incluindo um dispensável 3D.

Luhrmann é, como Gatsby irá se revelar ao longo do livro, um novo-rico, um emergente do cinema. É também, como o protagonista, um homem que não sabe quando parar --como se vê nas inúmeras sequências em que estabelece um paralelo entre o jazz do início do século 20 e o hip-hop do começo do 21.

Nesse sentido, sua escolha como diretor não poderia ser mais adequada. Luhrmann é capaz de retratar perfeitamente a superfície de Gatsby.

Por outro lado, ele não consegue penetrar no lado mais obscuro do personagem: sua vaidade, sua obsessão maníaca pela propriedade (incluindo aí a de Daisy e de Nick).

No livro "Sunset Park", de Paul Auster, há uma chave para entender o limite dessa adaptação: "(Nick) é o único personagem capaz de olhar para fora de si mesmo. Todos os outros são pessoas perdidas e rasas, e sem a paixão e a compreensão de Nick, não seríamos capazes de sentir nada por eles".

Talvez falte a Luhrmann o olhar de Nick --e, portanto, o de Fitzgerald-- sobre o lado negro do sonho americano. O cineasta não parece capaz de criticar essa fantasia materialista --ao contrário, embarca nela com gosto, sem perceber que ela se evaporou com o tempo.


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