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Crítica - Policial

Filme argentino envolve com trama intrigante

Em 'Tese Sobre um Homicídio', professor é colocado em xeque quando aluno lança teoria sobre assassinatos

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Em "Tese sobre um Homicídio", filme de Hernán Goldfrid que estreia hoje, estamos bem na tradição argentina (mais literária do que cinematográfica) do mistério policial em que um fator intelectual intervém fortemente. No caso, envolve o professor de direito Roberto Bermudez (Ricardo Darín), que tem seu curso acompanhado pelo aluno Gonzalo (Alberto Ammann).

Jovem e atrevido, Gonzalo apresenta logo de cara sua ousada tese: a sociedade só investiga os crimes na medida em que eles sejam nocivos ao poder. E conclui: quantas borboletas são mortas todos os dias sem que ninguém se importe com isso?

A ideia parece mais absurda do que é, já que pouco depois uma jovem aparece morta, em frente à sala em que Bermudez dá aulas. É intrigante. E fica bem mais intrigante quando, ao visitar o legista, Bermudez descobre que a moça levava no pescoço um colar com um broche em que se percebe o desenho de uma... borboleta.

Desde então Bermudez sabe que o criminoso só pode ser seu aluno. Mas como prová-lo? Estamos diante, talvez, de um crime perfeito. Ou seriam dois crimes?

DESAFIO

Pois o verdadeiro objetivo de Gonzalo é lançar um desafio ao professor: será ele capaz de investigar esse crime? Será capaz de passar da teoria à prática com a desenvoltura (e a vaidade) com que apregoa seu saber jurídico?

Eis o que de fato está em questão: o desafio do discípulo ao mestre. Não estamos longe, como se pode ver, de Hitchcock em "Festim Diabólico": em ambos os casos, o assassinato é uma questão de disputa intelectual.

Uma diferença, porém, é notável (do ponto de vista da intriga, pois esteticamente não têm nada a ver): Gonzalo estabelece de cara uma vantagem importante sobre o mestre, que não espera ser contestado dessa forma. Bermudez é levado pela obsessão de desmascarar o discípulo atrevido. E a obsessão pode destruí-lo.

Na verdade, levamos essa dúvida o tempo todo: conseguirá ele dominar sua obsessão? Mas não só ela. Entra aí a habilidade de Goldfrid em dominar também o espectador.

No decorrer do filme, nos perguntamos se Bermudez é conduzido pela obsessão ou pela lógica. Essa questão levará a outras, como: estamos diante de um crime perfeito ou conseguirá o professor desmascarar o criminoso? E ainda: será que o assassino é mesmo Gonzalo ou ele se aproveita da situação para provocar Bermudez?

Lançar e sustentar essas dúvidas não são virtudes menores, e "Tese" se desempenha adequadamente nesse aspecto. Talvez a evolução psicológica dos personagens (Bermudez, em particular) seja menos interessante (ou profunda) do que parece a Goldfrid. O que não impede seu filme de ser um agradável "noir" moderno.


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