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Crítica romance

Tramas batidas de 'Corpos Estranhos' desperdiçam personagem misterioso

MARCELO PEN ESPECIAL PARA A FOLHA

Em "Corpos Estranhos", de Cynthia Ozick, uma professora de meia-idade promove diligências para convencer o sobrinho, um jovem diletante em Paris, a regressar aos Estados Unidos e assumir o seu lugar à frente dos negócios familiares.

O tema do romance é declaradamente tirado de "Os Embaixadores", de Henry James (1843-1916), onde o noivo de uma rica industrial vai buscar na capital francesa o herdeiro recalcitrante.

Ozick situa a história nos anos 1950. Das cerca de cinco décadas que separam a ação dos dois romances muita coisa aconteceu, entre elas as duas Guerras, mas não a ponto de inverter o sentido da história de James. Ou seja, o sentido do capital.

Quando James escreveu o seu romance, os Estados Unidos já detinham o poder sobre o capital, embora não tivessem conquistado para si os ares da cultura metropolitana. Seu processo de conquista é predatório da mesma forma que os ares se revelam enganosos.

É desse encontro entre brutalidade e falácia que se constrói o rico herdeiro. Não por acaso ele regressa à pátria para comandar o novo setor de publicidade do império fabril. James sabia com o que estava lidando, e sabia que o jardim das delícias do Velho Mundo escondia e anunciava o desastre.

A questão é saber se Ozick sabe. Ao dividir entre muitas consciências a condução da história que James fez ver pela perspectiva de apenas uma, produz tanto uma diluição do efeito quanto um abrandamento da complexidade.

Somente uma personagem escapa do tópico. A misteriosa amante do herdeiro não é uma nobre decadente, como em James, mas uma sobrevivente do Holocausto. Ela é o corpo estranho na família da professora, de judeus assimilados à cultura puritana.

Infelizmente a autora não a aproveitou como poderia, apoiando-se em subtramas batidas. Ao estabelecer tarde demais esse enfoque, fez o romance rodar em falso. E quando o estabelece, enfim, nada ilumina senão o inevitável vazio.


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