Folha de S.Paulo

Produtor subestimou maior sucesso francês

Antes de chegar aos cinemas franceses, onde vendeu 1,8 milhão de ingressos, o documentário francês de maior sucesso, "Ser e Ter" (2002), de Nicolas Philibert, passou pelos olhos do produtor Yves Jeanneau. Ele não viu nele nenhum potencial de êxito.

"Eu não acreditava no filme. Reconheço isso. Eu o vi antes que fosse lançado e não acreditei que daria certo, embora fosse interessante. Jamais apostaria no sucesso de público que o filme fez na França nem que ele seria um êxito internacional."

Jeanneau era diretor-geral da Films d'Ici, coprodutora de "Ser e Ter", e trata com naturalidade seu erro de avaliação. "Felizmente, não estamos no domínio da ciência exata. Ser e Ter' é um bom mistério, uma bela história, um conto de fadas", afirma.

"Não há nenhuma razão objetiva que permita dizer porque o filme é um sucesso", diz ele. "Posso te mostrar 50 filmes com as mesmas características de Ser e Ter' que não funcionaram. Esse funcionou", diz.

O produtor trata esse episódio atualmente como um "contraexemplo" na receita que oferece em seus workshops sobre o que faz e o que não faz sucesso no mercado.

"Essa história mostra que sempre há a possibilidade de existir um filme que não foi feito para o mercado internacional, não foi pensado para ser um blockbuster', que é um filme de autor, exigente e difícil e que funciona."

"Ser e Ter" retrata a rotina da relação de um professor e seus alunos de diversas idades numa escola rural francesa. Após o sucesso do filme, o professor Georges Lopez processou diretor e produtores, alegando que sua imagem foi usada sem sua permissão. Pediu o equivalente a R$ 890 mil, além de ser reconhecido como coautor do documentário.

Em 2006, Lopez perdeu a causa. O juiz determinou que ele deveria pagar 12 mil euros às partes contrárias, pelas despesas processuais.