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Em novo livro, James Bond vai à África

'Solo' foi escrito pelo britânico William Boyd a pedido dos herdeiros de Ian Fleming, autor da série sobre o espião

Na história, 007 intervém em guerra civil; para escritor, filmes se afastaram de personagem original

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

Nada de computadores nem traquitanas tecnológicas: o novo livro de James Bond traz um espião da velha guarda. Em "Solo" (Objetiva), criado por William Boyd por encomenda dos herdeiros de Ian Fleming, 007 tem 45 anos e visita a África pela primeira vez, intervindo numa guerra civil em 1969. A obra teve lançamento mundial ontem.

"Queria fazer uma história clássica de espionagem, um homem e sua missão", diz Boyd, 61, autor de mais de uma dúzia de romances, além de incursões no cinema e na TV. Nesta entrevista por telefone, de Londres, ele fala sobre o livro e seu trabalho.

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Folha - Por que escrever mais um livro com James Bond?
William Boyd - Já escrevi dois livros de espiões, conheço o mundo das histórias de espionagem. E conheço bem a história de Ian Fleming, que aparece como personagem no meu romance "As Aventuras de um Coração Humano". Ao ser convidado, há cerca de dois anos, aceitei na hora.

Por que o autor o interessava?
Ele é um exemplar típico de uma geração de autores nascidos antes da Segunda Guerra e que, depois dela, parecem ter entrado em depressão. No final da vida, fazia enorme sucesso com as novelas de Bond, e os filmes com 007 estavam começando. Era muito conhecido, ganhava bem. Mas era infeliz, atormentado. Bebia muito, fumava, usava drogas, numa espécie de suicídio lento.

Como se inspirou para "Solo"?
Apresentei o projeto em uma reunião com os herdeiros de Fleming, seus sobrinhos e sobrinhas. Disse que queria criar uma novela realística sobre um homem real, uma clássica novela de espionagem: um homem e sua missão. A família gostou.
Decidi mandá-lo a uma missão na África, onde ele nunca tinha atuado antes. Vivi na África, nasci em Gana. Pensei que seria interessante pôr Bond em um país africano, durante uma guerra civil, algo que conheci muito bem: de 1967 a 1970, vivi na Nigéria, que enfrentava uma. Aquilo teve efeito profundo em mim.

Quais os desafios envolvidos na produção do livro?
O maior foi tentar entender a vida de James Bond, seus sentimentos, seus desejos, do que ele gostava ou não, como reagia às coisas. Reli todas as histórias de Fleming, buscando informações sobre sua personalidade. Tudo que pus no livro foi baseado em pistas e indicações existentes nas novelas de Fleming.

Isso faz de "Solo" um livro ultrapassado em relação ao 007 dos filmes mais recentes, não?
O problema com os filmes é que são sempre contemporâneos, então se afastam cada vez mais do James Bond de Ian Fleming. Bond é um espião da Guerra Fria, que terminou com a queda do Muro de Berlim, numa era sem celulares, GPS, internet.
Esqueci o que vi nos filmes e me concentrei no Bond de Fleming. Fiz uma história cronologicamente correta para Bond, sem imaginar um futuro que Fleming não poderia ter imaginado. Ter "M" como uma mulher, por exemplo, isso chocaria Fleming. Os filmes criaram seu mundo, e sua relação com os livros é só em um ou dois detalhes, nada muito além disso.

Isso não reduz as chances de "Solo" chegar ao cinema?
Acho que nunca vai virar filme, nunca farão uma história de Bond em 1969. Podem pegar minha trama e atualizar, mas não voltar no tempo.

Se houvesse um Bond de verdade, o que ele faria nos conflitos de hoje na África?
Aquele tipo de espionagem, da Guerra Fria, não existe mais. Hoje, o trabalho é mais de vigilância, observação, monitoramento, envolvendo alta tecnologia, câmeras, internet. O que temos é gente olhando telas de computador, ouvindo conversas, lendo e-mails. O espião clássico não existe mais; hoje são especialistas em informática. Sabem como invadir computadores, mas não dar um tiro. São habilidades diferentes. É um mundo diferente.


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