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Se sou simplista, não me leia, diz Gladwell

Autor do best-seller 'O Ponto da Virada', jornalista inglês lança novo livro sobre as vantagens de ser um azarão

Em 'David and Goliath', que saiu no começo do mês, escritor continua sua própria tradição de questionar premissas

OLIVER BURKEMAN DO "GUARDIAN"

Malcolm Gladwell está em um café em Nova York, mergulhado numa tarefa tipicamente gladwelliana: defender o ciclista Lance Armstrong, banido do esporte por ter feito uso de doping.

Autor de sucessos como "O Ponto da Virada" (ed. Sextante), o jornalista inglês é excepcional no papel de provocador intelectual.

Suas obras forçam a revisão de premissas: e se os empreendedores mais bem-sucedidos não forem os que assumem riscos, mas os que fogem deles? Há uma boa razão para haver muitos tipos de mostarda, mas só uma grande marca de ketchup?

O importante não é necessariamente aceitar suas conclusões, mas ver o mundo sob nova ótica. Isso irrita alguns críticos, que prefeririam que Gladwell fizesse afirmações mais cautelosas.

Seu novo livro, "David and Goliath" ("Davi e Golias"), acaba de sair no Reino Unido. A obra explora quando e por que desvantagens aparentes (pobreza, reveses pessoais, debilidades) acabam revelando ser vantagens, e quando as vantagens, como riqueza ou status, não são o que aparentam ser.

"O fato de ser um joão-ninguém afeta as pessoas de formas que muitas vezes não apreciamos corretamente", escreve. "Abre portas, permite coisas que, de outro modo, poderiam parecer impensáveis."

São descritos disléxicos cujos problemas de leitura os forçaram a encontrar maneiras mais eficientes de dominar o direito e as finanças e fica-se sabendo por que a perda de um pai na infância fomenta a resiliência que leva a realizações no futuro.

"Devemos nos animar com o fato de que os traumas inevitáveis da condição humana acabam gerando algo positivo. Não fosse assim, a condição humana seria deprimente", afirma Gladwell.

AZARÕES

Formado em história, ele trabalhou em jornais como o "Washington Post" e em revistas como a "New Yorker". Foi nela que publicou, em 1996, o artigo que se tornaria o livro "O Ponto da Virada". "Blink", obra lançada em 2005 sobre os pontos fracos e fortes da tomada inconsciente de decisões, consolidou seu status.

Ele vive num apartamento cheio de livros em Manhattan, mas prefere escrever em cafés locais, para recriar o ambiente de uma redação.

Gladwell é acusado de simplificação excessiva. "Você simplifica por necessidade", diz. "Se você trabalha traduzindo ideias do campo acadêmico para um público geral, é preciso simplificar. Se você acha meus livros super simplificados, não deve lê-los --você não é o público-alvo."

Um trecho do livro trata da batalha pelos direitos civis no Sul dos EUA, em 1963. Em público, Martin Luther King e seus assessores mantinham uma fachada de dignidade.

Nos bastidores, o movimento marcava os protestos de rua para o final da tarde, quando os moradores negros da cidade de Birmingham voltavam para casa do trabalho, a pé, levando as autoridades a pensarem que transeuntes eram na realidade manifestantes.

"Precisamos lembrar que nossas definições do que é certo muitas vezes são só o modo usado por pessoas em posições de privilégio para fechar a porta a quem está no degrau mais baixo."

Os azarões precisam se aproveitar do que dispõem. "Muito do que é valioso nasce desse tipo de conflito desigual. Enfrentar forças de superioridade avassaladora gera grandeza e beleza."


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