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'Hollywood do Marrocos' é motivo de orgulho e preocupação para país
DIOGO BERCITO EM OUARZAZATE (MARROCOS)Bem-vindos a Jerusalém. Os muros da cidade sagrada pesam sobre a areia para proteger seus pavilhões -vazios. Não há ninguém para defendê-la, ninguém para atacá-la.
A fortaleza visitada pela reportagem não é real. Ela foi cenário do filme "Cruzada" (2005) e, depois, virou atração turística em Ouarzazate, no interior do Marrocos.
É uma das relíquias de Hollywood esquecidas por ali, para orgulho e desgosto da população. Por perto estão as bigas de "Gladiador" (2000) e um templo de "A Múmia" (1999).
Essas produções milionárias trouxeram fama para a região e turistas para os estúdios, que cobram o equivalente a R$ 5 por passeio.
O problema, para seus críticos, é que clássicos como "Lawrence da Arábia" (1962), filmados ali, não trouxeram consigo o desenvolvimento da produção local ou o enriquecimento da população.
Um figurante recebe, em média, cerca de R$ 50 por dia. Para comparação, nos EUA, o sindicato da categoria estipula R$ 300 diários.
Por outro lado, um patrimônio local datado do século 17, a fortaleza de Taourirt, se mantém em estado incomum de restauração por ter sido cenário de diversos filmes. Dessa maneira, ela foi repetidamente restaurada.
Os estúdios são o grande atrativo turístico ali, em uma região distante que recebe poucos visitantes e não tem um cardápio variado de atividades econômicas.
"Muito dinheiro passa por Ouarzazate, mas não fica ali", diz o diretor marroquino Ali Essafi, que fez um documentário sobre a cidade. "Não há sala de cinema para assistir aos filmes rodados ali. Os técnicos [das superproduções] não trabalham nas fitas marroquinas, então não aproveitamos a expertise deles."