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Crítica / Teatro

Conflitos entre pai e filho guiam a boa trama encenada por Pedro Neschling

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Drama realista eficaz. "Como Nossos Pais" espetáculo escrito e dirigido pelo ator Pedro Neschling, revela um dramaturgo e encenador capaz de criar uma boa história e contá-la com estilo.

Este é o segundo texto para teatro de Neschling, bem conhecido como ator na televisão e no cinema, mas que já roteirizou e dirigiu dois curtas-metragens e, desde 2010, assinou três montagens teatrais.

Claramente, é o seu projeto mais autoral, e sua presença em cena, também como ator, denota o empenho que lhe dedicou.

A trama proposta narra os descaminhos entre um pai rico e poderoso e um filho carente de afetos fundamentais.

São evidentes os traços biográficos na obra, até porque seu autor não os esconde ao dedicar ao pai, o maestro John Neschling, sua realização. Mas, como em toda ficção, os personagens apresentados são inventados.

REALISMO

A convenção em que o texto se insere é a do realismo, em sua pretensão, sempre discutível, de representar a vida humana como ela se daria de fato.

Ainda que o cinema e a televisão venham cumprindo esse projeto de forma hegemônica, o teatro ainda pode se prestar a servi-lo. É a forma ágil e eficiente com que a encenação o faz que merece destaque.

Neschling costura cenas dialogadas curtas entre os quatro protagonistas e narrativas diretas ao público de cada um deles. Os personagens secundários são só evocados, e todo o intrincado fio das ações que desenha a curva dramática vai se delineando aos poucos, ora pelos diálogos, ora exposto diretamente ao público.

CENÁRIO

A direção de arte de Flávio Graff, que entulha o palco com totens brancos, impedindo às vezes que se veja os atores de corpo inteiro e sugerindo a princípio pouca mobilidade, se mostra uma opção feliz. Facilita o foco nos diálogos e a definição dos nichos em que se desenvolvem as ações.

Os intérpretes também são decisivos. Além do equilibrado jogo entre Oscar Saraiva, como o pai, e o próprio Pedro Neschling, como o filho -temperado pela presença firme de Victória Frate, a namorada dividida entre os dois-, o desempenho mais notável é o de Fabrício Santiago, como o filho da empregada que carrega um destino trágico.

Claro que no realismo de base televisiva há sempre um componente melodramático, que alivia as tensões urdidas e força reconciliações. O que havia implícito de denúncia, ao abismo entre as classes no Brasil, converte-se em acomodação e em desfecho convencional. Mas não deixa de ser um olhar para a realidade e apresentado por um talento promissor.


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