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Em Cuba, funcionários públicos demitidos abrem negócios

Ascensão de uma classe de proprietários de pequenos negócios muda o mercado de trabalho e a relação da população com o governo

VICTORIA BURNETT DO "THE NEW YORK TIMES", EM HAVANA

Foi um dia do trabalho típico, com trabalhadores marchando em Havana. Mas, entre as multidões de funcionários públicos, havia uma nova categoria: empreendedores, com quem o governo cubano conta para absorver os milhares de funcionários públicos que pretende demitir.

A presença deles, ainda que em número limitado, reflete as mudanças em país no qual, por décadas, o Estado se responsabilizava, em tese, por fornecer tudo aos cidadãos.

Mas a capacidade do Estado se reduziu muito ao longo dos anos, e a ração alimentar gratuita ficou cada vez menos capaz de atender às necessidades básicas dos cidadãos.

Desde 2010, quando o governo começou a fornecer novas licenças para trabalhar por conta própria e contratar compatriotas como funcionários, mais de 250 mil empreendedores e seus funcionários ingressaram no setor privado.

Nos dois últimos anos, o governo cortou mais de 350 mil funcionários do setor público, que emprega mais de 4 milhões dos cerca de 11,2 milhões de cubanos.

É fato que ainda não há um mercado de atacado no qual as empresas possam adquirir bens de que necessitam, e o governo continua a limitar os tipo de companhias que empreendedores podem criar.

Mas, por menor que seja, o setor privado está mudando a cultura de trabalho na ilha.

Sergio Alba Marín, que por anos administrou o restaurante de um hotel estatal e agora é dono de um popular restaurante de fast food, diz que não emprega trabalhadores treinados pelo Estado.

"Eles têm vícios demais --roubar, para começar", diz Alba, que participou do desfile acompanhado por 25 funcionários e carregando duas grandes faixas com o nome de seu restaurante, La Pachanga. "Não há como mudar essa mentalidade."

Agora, o setor privado e o estatal colaboram em certas coisas e competem em outras.

O Estado agora compra produtos --de legumes a outdoors-- de empreendedores. Margaly Rodríguez, por exemplo, tem uma empresa que fornece comida para a estatal Palco para fornecer comida em seus eventos; a companhia de Rodríguez, por sua vez, aluga louças e talheres de um restaurante estatal.

A simbiose pode ser curiosa: milhares de cafés, táxis, restaurantes e lojas de fotocópias, material de construção, roupas, sapatos e DVDs privadas concorrem com empresas estatais. Muita gente trabalha nos dois setores e rouba produtos do empregador estatal para abastecer seus negócios privados.

Há sinais de que as estatais estão respondendo à concorrência, adicionando alguns toques modernos aos desanimadores supermercados do país (uma placa em néon, correias transportadoras nos caixas, bancadas oferecendo doces perto dos caixas) e redecorando restaurantes.

As novas liberdades econômicas e os impostos pagos pelo setor privado também começam a afetar a relação entre indivíduos e o Estado.

"A disposição das pessoas a expressar um ponto de vista alternativo claramente cresceu", diz Richard Feinberg, professor da Universidade da Califórnia em San Diego. "Mas demorará um pouco para que surja uma consciência de classe e uma articulação política dos seus interesses."

O fato de alguns dos empreendedores terem decidido participar do desfile do Dia do Trabalho, um evento orquestrado, prova que o Estado continua a ter imenso poder.

Mas não são todos. Uma mulher que disse se chamar Virgen, 59, vendia café no caminho do desfile, do qual diz ter participado todos os anos, menos neste. "Se eu participar, quem vai vender café?"


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