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Demitido, garçom vira pedinte na Espanha

Com 5 milhões de desempregados, país tem segunda recessão desde 2008

LUISA BELCHIOR COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

De barba feita, roupa alinhada, cabelos penteados para o lado e tênis limpo, o espanhol Pedro Llana, 47, mira o horizonte desde um pequeno degrau na Gran Vía de Madri, a rua mais badalada da capital da Espanha.

Mira longe porque tem medo de cruzar o olhar com os cerca de 35 mil pedestres que passam diariamente pela via e reconhecer ou ser reconhecido por alguém.

"Já aconteceu algumas vezes, mas, se eu encontrar meu filho, minha alma chora", disse à reportagem da Folha.

É que o filho, como a ex-mulher, não sabe que há dois meses o pai vive na rua, onde dorme, toma banho, lava suas duas mudas de roupa e busca trabalho, um grande desafio em uma Espanha com 5 milhões de desempregados.

Llana nem sequer consta dessa cifra. Há um ano, perdeu o seguro-desemprego e, portanto, o registro na fila de emprego. Seu último trabalho, um bar que fechou as portas e não pagou aos funcionários, durou apenas um mês, abaixo do tempo mínimo para que o governo pague o auxílio a desempregados.

A crise econômica que já provoca a segunda recessão em cinco anos no país carregou a casa e todo o dinheiro que Llana gastava sem pudor.

"Saía para festejar meu aniversário com € 2.000 (cerca de R$ 5.900) no bolso", disse Llana, que, como garçom, chegou a ganhar aproximadamente R$ 10 mil mensais.

Hoje, sem nenhum recurso financeiro, que gastou para se manter enquanto buscava outro trabalho, o espanhol foi para a rua, destino de 3 milhões de conterrâneos seus, segundo estudo da organização humanitária Cáritas divulgado no fim de 2012.

ESPERANÇA

O bom tempo do início do verão madrilenho ameniza as noites que o garçom desempregado passa em praças do centro da capital, depois de juntar uma média de € 5 (R$ 14,5) que recebe de esmolas por dia.

"Quando vier o frio, espero não estar mais aqui", disse. Para isso, Llana distribui diariamente currículos, que imprime em uma agência da Cáritas perto da Gran Vía.

"Mas sempre ouço que estou velho. Eles nos substituíram por jovens e imigrantes que trabalham por muito menos e sem contrato."

Llana foi garçom desde os 13 anos e chegou a ganhar o equivalente a R$ 10 mil mensais na década de 1990. Comprou casa e viajava para o exterior com a família. Até o restaurante onde trabalhava demitir, por corte de gastos, os funcionários mais velhos.

Hoje, custa a encontrar um posto com contrato e salário mensal. Mas a vontade de poder pagar mais que um sorvete para o filho nos passeios dominicais o leva a, diariamente, tomar banho, fazer a barba e lavar roupa no banheiro de uma estação de ônibus intermunicipais.


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