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Marcos Caramuru de Paiva

Positivo ou perigoso

O diálogo, mesmo sem ter resultados, é sempre positivo; é a lição que fica do encontro Obama-Xi

Pode ser uma foto do momento, mas as notícias dos últimos dias passam a impressão de que, enquanto os europeus patinam na relação com a China, os americanos sabem o que fazem.

A reunião dos presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Barack Obama, sábado passado, numa casa na Califórnia, foi vendida como uma maneira nova de buscar entendimentos, sem formalidades excessivas e sem preocupação com resultados.

Diálogos pessoais entre líderes não costumam funcionar com os chineses. O governo colegiado não dá espaço para um presidente que abrace seus interlocutores e se entenda diretamente com eles.

Os chineses seguem, na política externa, a máxima da escola realista: os Estados movem-se por interesses. A personalidade de quem os representa conta pouco, e a burocracia manda muito.

Mas, em Sunnyland, a imagem de Barack Obama e Xi Jinping em ambiente relaxado resultou bem. O que se divulgou publicamente dá ideia de que se conversou com franqueza sobre temas difíceis, sem que qualquer dos dois lados tenha mudado de posições.

As entrevistas finais registraram pequenos avanços. A China se comprometeu a prosseguir as reformas e a abertura; os Estados Unidos a tratarão como um parceiro de igual para igual. Americanos e chineses vão se reunir, em todos os níveis, com maior frequência do que já fazem e realizarão exercícios militares conjuntos. O Japão, a Coreia do Sul e outros asiáticos que apostam na aliança americana para conter o gigante asiático não terão se entusiasmado.

Os europeus, por sua vez, mostraram um grau de confusão surpreendente na querela comercial sobre os painéis solares chineses.

Primeiro porque, anunciada a decisão da União Europeia de impor uma sobretaxa às importações dos painéis, deixou-se vazar que os alemães --e depois os ingleses, holandeses e suecos-- não estavam de acordo. Basta ver os carros nas ruas das metrópoles chinesas para concluir que os alemães não têm qualquer interesse em controvérsias comerciais, mesmo tendo sido uma empresa alemã a demandante do antidumping.

Segundo, porque os europeus não pareciam esperar uma reação tão rápida dos chineses, abrindo uma investigação preliminar de dumping sobre vinhos. Pode ser que a investigação nem avance, se a União Europeia e a China se sentarem para conversar. Mas é, no mínimo, um alerta. Franceses, italianos e espanhóis que se cuidem.

À parte os vinhos, eles estão gerando boa receita no varejo chinês, seja com bens de luxo, seja com alimentos industrializados. Incomodá-los, agora ou em outra ocasião, não será difícil.

Lidar com a China nos próximos anos ou décadas trará surpresas. A lição que se tira da semana passada não passa do elementar: o diálogo, mesmo sem resultados, é sempre positivo; a confrontação, perigosa e imprevisível.

O problema é que muitos ainda creem, na Europa e também fora dela, que confrontar a China é, em qualquer circunstância, a alternativa mais eficaz.


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