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Tensão social gera série de ataques entre os chineses

Para ativistas, atos de violência são resposta a rígido controle do governo

Censura estatal não consegue mais abafar completamente os casos, divulgados pelas redes sociais no país

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Um vendedor de melancias é brutalmente morto por guardas municipais. Inconformado com a política de filho único, um pai de quatro filhos mata dois funcionários públicos a facadas.

No ultravigiado aeroporto de Pequim, um deficiente detona uma bomba caseira em protesto contra a agressão policial, que ele alega tê-lo deixado paralítico.

Após comprar uma faca num supermercado da capital, um homem ataca várias pessoas a esmo, incluindo uma criança de dois anos.

Uma série de atos sangrentos ocorridos na China nas últimas semanas evidencia a crescente tensão social no país, que já não pode ser mais totalmente abafada pela censura graças às redes sociais.

Essa é a opinião de proeminentes ativistas de direitos humanos consultados pela Folha, que descrevem um panorama pouco animador da nova liderança chinesa nos primeiros cinco meses no poder.

Eles preveem que as ações extremas se multiplicarão, alimentadas pela sensação de impotência diante do autoritarismo do governo e da inexistência do Estado de Direito na China, onde não há separação entre poderes.

"A tensão social definitivamente está crescendo. Há uma relação direta entre os recentes atos de violência e os métodos de controle do governo", diz o dissidente Hu Jia. "Quando as pessoas não têm meios de obter justiça, resta o desespero".

Mesmo após ficar três anos e meio preso, acusado de subversão, Hu não mede palavras contra o governo. Para ele, a política de manter a estabilidade a qualquer custo tem transformado a sociedade chinesa num "barril de pólvora".

O incidente mais falado das últimas semanas foi o de Deng Zhengjia, 56, um fazendeiro da província de Hunan (sul) que teve um fim brutal quando tentava vender melancias.

Segundo testemunhas, ele morreu ao ser golpeado na cabeça com um peso de sua balança por fiscais parapoliciais, os odiados "chengguan", durante discussão sobre a licença de trabalho do agricultor.

As imagens do corpo de Deng estirado no chão se espalharam pela internet, antes que a censura oficial pudesse apagá-las.

A frustração com o sistema legal está na origem da frustração, diz Sophie Richardson, diretora para a China da Human Rights Watch."Há tão pouca confiança na capacidade do Estado de fazer justiça que é difícil supor que não haverá protestos."

Dois ataques a facadas em centros comerciais de Pequim em poucos dias deixaram três mortos. A polícia reagiu proibindo a venda de facas em supermercados, e o governo atribuiu os ataques a "desequilibrados mentais".

Mas até a mídia estatal manifestou preocupação com a violência. "É importante que haja punições de acordo com a lei", disse a estatal Xinhua. "Mas o mais importante é que o governo crie um ambiente social harmonioso, com cuidado, tolerância e justiça."

Segundo estudo da ONG americana Freedom House, o controle da internet aumentou desde a posse do novo presidente chinês, Xi Jinping.

"A censura continua rigorosa, mas mesmo que a informação sobreviva por pouco tempo no ar, é o suficiente para que as pessoas fiquem sabendo", diz Hu Jia.

"Xi [Jinping, presidente chinês] enfatiza o sonho chinês e o naciona-lismo, mas promove o legado de Mao [Tse-tung], em que os direitos humanos são praticamente ignorados"

Pu Zhiqiang, advogado do artista Ai Weiwei


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