Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Clóvis Rossi

Indignada, mas responsável

Dilma não esconde a irritação com a espionagem dos EUA, mas mantém a atitude de chefe de governo

SÃO PETERSBURGO - A presidente Dilma Rousseff está sendo suficientemente responsável para, ao mesmo tempo, expor sem disfarces sua indignação com o sistema norte-americano de espionagem sem recair num clássico da esquerda latino-americana, que é o destempero retórico contra o tal "império".

Para começar, Dilma distingue entre o megaesquema de vigilância, o tal Prism, aplicado no mundo todo, e a espionagem em particular sobre ela própria, sobre embaixadas e empresas brasileiras --o varejo, digamos assim, desse Grande Irmão que irrompe não em 1984, mas em 2013.

Vale a pena recuperar frase de Marco Aurélio Garcia, usada neste mesmo espaço no domingo passado: "Uma coisa é a interceptação dos tais metadados, na qual se pode, embora erradamente, invocar questões de segurança nacional. Outra coisa é grampear a missão na ONU. Aí é grampo mesmo, não havia segurança nacional [norte-americana] em jogo, mas política externa brasileira".

A frase foi dita antes que o programa "Fantástico" divulgasse novos dados sobre a vigilância direta em cima de Dilma. Depois dela, torna-se ainda mais atual e correta.

A própria presidente, na sexta-feira, elencou, com razão, todas as características que fazem do Brasil um país sobre o qual a espionagem não pode ter nada que ver com a segurança nacional norte-americana. Por isso, é "inadmissível".

Nem assim Dilma fala em "império", retaliações ou coisas parecidas. No máximo, suspenderá a visita de Estado aos EUA, marcada para outubro, a menos que receba informações suficientes para criar o que chama de "condições políticas" que lhe permitam manter a viagem.

A rigor, nem é muito o que pede a presidente a Obama: quer saber tudo o que há em matéria de espionagem, em especial do segundo tipo, o direcionado para ela. Tem todo o direito de não ficar sabendo pelos jornais ou pela TV. Já imaginou, leitor, se, de repente, estivéssemos em outubro, Dilma instalada nos EUA e vem o "Fantástico" com novas revelações como as de domingo passado? Faria papel de tola.

Suspeito que o que ajuda a elevar a indignação do governo é o fato de que, antes desses episódios todos, "as relações Brasil/Estados Unidos eram melhores do que no período Fernando Henrique Cardoso/George Walker Bush", como diz Marco Aurélio.

Como disse Dilma na sexta-feira, "atos de espionagem são incompatíveis com a convivência entre países amigos".

Mais que amigos, autodefiniram-se, desde a convivência Lula/Bush, como "parceiros estratégicos". Que diabo de parceria é essa em que um dos lados bisbilhota todas as atividades do outro?

O fato é que, se as medidas que Obama prometeu anunciar ao Brasil na quarta-feira não forem satisfatórias, Dilma terá um tremendo abacaxi nas mãos: rever as relações com o parceiro estratégico, com o qual há um imponente fluxo comercial e que manda investimentos suculentos. Tarefa nada fácil, ainda mais na antevéspera da eleição presidencial.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página