Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Suécia vira paraíso de sírios que escapam de guerra civil

País é primeiro europeu a dar residência permanente a quem escapa do conflito

Governo sueco diz que medida foi tomada por não haver previsão para 'quadro de calamidade' terminar no país árabe

MARINA REIS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ESTOCOLMO (SUÉCIA)

"Posso estudar, trabalhar, pensar no futuro. Mas não é possível se livrar do estresse, pois nossas famílias ainda estão lá na Síriasoran (nome fictício)refugiado sírio que entrou na Europa pela Grécia até se fixar na Suécia

A Suécia tornou-se neste mês o primeiro país da União Europeia a conceder permissão de residência permanente a todos os refugiados sírios em seu território.

Segundo o Conselho de Migração da Suécia, a medida foi tomada porque "não há previsão de que o quadro de calamidade na Síria cesse em um futuro próximo".

O país árabe está imerso há dois anos em um conflito entre forças leais ao ditador Bashar al-Assad e grupos rebeldes que tentam tirá-lo do poder. Mais de 110 mil pessoas já morreram no período.

A decisão do governo sueco beneficia não apenas sírios que ainda venham a chegar no país, como também cerca de 8.000 refugiados que já possuem permissão de residência temporária.

Até então, o governo vinha concedendo autorizações válidas por três anos.

Entre os beneficiados está Ajna, 33, que pediu para ser identificada por um nome fictício por receio de que sua família, ainda na Síria, possa sofrer retaliações.

Após perder o emprego e a casa e sob o constante risco de perder a própria vida, ela optou pela fuga da Síria. Pagou cerca de € 10 mil (R$ 30 mil) a traficantes de pessoas e chegou à Suécia, onde pediu asilo em janeiro de 2013.

Pertencente à minoria curda síria, Ajna afirma que a intimidação era constante em seu país.

"Há pontos de inspeção a cada 20 km. Alguns são do regime, outros, de diversas facções de oposição."

Ela conta que testemunhou ameaças de grupos radicais islâmicos --a presença de jihadistas é um dos motivos que fazem com que as potências ocidentais hesitem em apoiar os rebeldes.

Um dia, num ônibus, Ajna viu membros da Frente al-Nusra, militância ligada à Al Qaeda, pedirem para um passageiro recitar o verso do Alcorão que deveria ser dito em caso de ataque inimigo.

"O passageiro não sabia a resposta. O miliciano disse o verso e o obrigou a repetir. Depois, disse que, da próxima vez que o encontrar, quer que ele saiba todo o Alcorão, senão irá morrer."

A área de Aleppo, onde vivia, também estava dividida e, antes de fugir para a Suécia, ela e a família tiveram que mudar de cidade. Isso a obrigou a abandonar o emprego de professora de inglês.

"Minhas irmãs também perderam o emprego e meus irmãos conseguiram fugir para o Curdistão iraquiano."

Soran, que também prefere não expor o nome verdadeiro, arriscou-se para deixar a Síria com um passaporte falso.

"Fugi da Síria para a Turquia e entrei na Europa pela Grécia. A Suécia negou meu primeiro pedido de asilo, pois, pela Convenção de Dublin, a solicitação deve ser feita no país de entrada na União Europeia", conta. "Mas a Grécia me deportaria."

Uma carta da Human Rights Watch, datada de 2010, apoia o pedido de Soran e alerta autoridades para o risco que ele corre caso seja deportado --especialmente por ser membro do partido liberal curdo Corrente do Futuro, que teve seu líder, Mechaal Tamo, assassinado em 2011.

A outra carta de apoio é da Anistia Internacional, datada de 2012.

Agora, sorrindo, ele diz que se sente bem: "Posso estudar, trabalhar, pensar no futuro". Feliz, no entanto, não parece ser a melhor descrição para Soran:

"Não é possível se livrar do estresse, nossas famílias ainda estão lá", justifica.

Indagado se gostaria de voltar à Síria quando a guerra terminar, ele não hesita: "Com toda certeza".

Ajna, que também sente falta da família, não tem esperanças de que o fim do conflito esteja próximo, mas tenta se manter otimista:

"Não creio que acabe, nem daqui a dez anos, mas preciso acreditar que vai melhorar", afirma.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página