Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Acelera, Romney

Fãs da corrida de carros Nascar representam estereótipo do eleitorado republicano, homens de classe média e média baixa do sul, avessos ao casamento gay e ao aborto

LUCIANA COELHO ENVIADA ESPECIAL A TALLADEGA, ALABAMA

A população da pequena Talladega, no meio do Estado sulista do Alabama, tem 49% de negros. Mas, na massa de 70 mil fãs que lotam pista e arquibancadas do circuito homônimo num domingo de corrida de Nascar em outubro, diversidade racial não existe. Nem política.

"Assim como [o republicano Mitt] Romney não receberá quase nenhum voto negro, Obama terá pouco apoio entre os 'pais da Nascar' -os homens brancos de classe média e média baixa do sul do pais", diz Peter Brown, diretor-assistente de pesquisa da Universidade Quinnipiac.

"Raça não é a questão, mas eles não votam nos democratas há décadas. Os valores são diferentes."

A Nascar, corrida com carros similares aos de passeio cujo nome batizou o grupo demográfico que forma o núcleo do eleitorado republicano, é o segundo esporte mais visto pela TV. Até a crise de 2008, girava US$ 407 milhões em patrocínio por ano.

A organização -que é apolítica- informa que 80% dos fãs são brancos, 63% são homens e 54% se encaixam no padrão da classe média.

Nas corridas do sul, porém, o clichê se torna mais agudo.

Valores como a oposição ao aborto e ao casamento gay, a defesa do porte de armas e o rechaço aos programas assistenciais ainda são a argamassa do grupo, mas agora sua atenção está na economia.

"Por que somos republicanos? Porque essas famílias trabalham duro para estar aqui", responde Kenny Satterlee, 37, veterano do Iraque que ostenta camiseta com os dizeres "Obama Sucks" (Obama é uma droga).

SOCIALISTA

"Obama não é só democrata, é socialista. Pega nosso dinheiro e financia países islâmicos que nos querem mortos", reclama, sem explicar.

O discurso de que Obama "se desculpa pela grandeza americana" calou fundo no bolsão conservador, onde a bandeira nacional é vista em quase todo trailer estacionado na cidade improvisada que, por três dias, forma-se em volta da pista com aficionados vindos da Geórgia, do Tennessee, do Arkansas.

"Acho errado religião se misturar com política. Nem ligo que Obama seja muçulmano", diz o cabo Scott, 22, que torce para Dale Earnhardt Jr., piloto da equipe bancada pela Guarda Nacional -instituição à qual ele serve. Há outro corredor, Ryan Newman, patrocinado pelo Exército.

Informado de que o presidente é protestante, Scott -que já serviu 13 meses no Iraque e pediu para não ter o sobrenome revelado- reage, citando um mito recorrente: "Mas ele jurou sobre o Alcorão ao ser empossado!".

O cabo diz ser um "bom batista do sul" e que votará em Romney por ele "focar mais a economia e o desemprego que Obama" e não querer cortar o orçamento militar.

"A única falha é ser mórmon", aponta, referindo-se à religião do republicano. "Ok, você me diz que mórmons são cristãos, sem problema. Mas são cristãos diferentes, né?", insiste, prometendo desobedecer ao pastor, que pede aos fieis que não votem.

Quem o anima é o vice de Romney, o católico Paul Ryan. "Ele é como um bom mecânico", diz, enquanto festeja a troca de pneus de Earnhardt em dez segundos. "O presidente tem de dirigir rápido, mas quem troca os pneus e abastece não pode errar."

Um pouco atrás, onde os fãs armaram espreguiçadeiras na parte interna da pista, Carrie Gable, 30, e Tara Laclear, 31, acompanham a corrida pelo telão com os maridos e latas de cerveja. Indagadas sobre por que a maioria ali é republicana, Carrie resume, orgulhosa: "Porque somos caipiras do sul!".

Elas ainda não haviam decidido em quem votar -enquanto entre os homens brancos a vantagem de Romney chega a 25 pontos percentuais, entre as mulheres é de 15.

"As pessoas daqui nem gostam muito de Romney", diz Carrie. A Nascar sempre foi um pit-stop para republicanos, mas um candidato vindo da elite financeira e política do norte não parece pertencer àquele mundo.

O aceno de Romney aos fãs foi dizer, neste ano, que gostava das corridas porque tinha "amigos donos de equipes". "Ele é investidor, sempre viveu do risco, e foi assim que ficou milionário", diz Carrie. "Não sei se quero ver ele tratar o país assim. O problema é que aqui ninguém confia em Obama."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página