Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Clóvis Rossi

Quando a raiva vence uma eleição

O grande problema agora é saber o que fazer no Parlamento que não se limite ao protesto

ROMA - Políticos, jornalistas e analistas destilam completo estado de choque ao falar das eleições. Ninguém esperava, primeiro, que o M5S (Movimento 5 Estrelas) capturasse a maioria dos votos para a Câmara dos Deputados, só superado pelos partidos tradicionais porque ambos concorreram em coligações, enquanto Beppe Grillo, o líder do M5S, estava sozinho.

Quebrou o bipartidarismo tradicional entre o que a mídia local chama sempre de centro-direita e centro-esquerda, rótulos sobre os quais tenho lá minhas restrições, mas não é o caso de discuti-las aqui e agora.

Criou-se um "tripolarismo", inventa Gianfranco Rotondi, deputado do PdL (Povo da Liberdade, o partido do inoxidável Silvio Berlusconi, que ressuscitou mais uma vez).

Mas não é um "tripolarismo" convencional. O M5S, do qual tratei domingo neste mesmo espaço, capturou o "voto da raiva", como diz Concita di Gregorio, repórter de "La Repubblica". Sua votação indica claramente que a raiva é imensa, como deve ser imensa na Espanha, em Portugal, na Grécia e em outros países europeus submetidos a um regime de austeridade que está destruindo o tecido econômico e social.

A diferença entre Grillo e "indignados" de outros países é que este cômico de 64 anos primeiro criou um movimento, usando esse instrumento político formidável e ainda pouco explorado que é a internet. Segundo, jogou esse movimento nas urnas, rejeitando o rótulo de antipolítico que usamos muito na mídia para falar dele.

Mas é difícil fugir desse rótulo quando sua primeira reação aos resultados de ontem foi curta e grossa: "Políticos? São gatos mortos".

A irrupção de Grillo foi instrumental para fazer com que a Itália desse um passo para a ingovernabilidade porque a centro-esquerda, liderada pelo Partido Democrático, fez maioria na Câmara, mas Berlusconi deverá ter maioria no Senado.

Como as duas Casas têm idênticos poderes, fica difícil governar nessas circunstâncias.

É possível que Grillo, que passou toda a campanha gritando "políticos, rendam-se, vocês estão cercados pelo povo italiano", decida agora dar os votos de seu movimento para compor uma maioria que seja minimamente estável?

Não faço a menor ideia porque se trata de uma figura imprevisível. Uma de suas propostas de campanha foi, por exemplo, sair do euro, hipótese que, só de ser eventualmente discutida no Parlamento, incendiaria os mercados e devolveria a Itália à beira do colapso financeiro.

A primeira reação de um dos eleitos pelo M5S, Alessandro di Battista, foi discutir se vai ser chamado de "onorevole", título habitualmente usado pelos deputados, ou de "cittadino" -o que traz remotos ecos da revolução francesa.

Sem guilhotina e sem épica, a votação espetacular dos "grillini", como são chamados os seguidores de Grillo, não deixa de ser uma pequena revolução.

O que é difícil de avaliar agora é se a revolução terá consequências ou se, uma vez mesclados aos políticos tradicionais italianos, deixarão dissolver a raiva que lhes deu tantos votos.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página