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O ponto cego da moda

Modelos negras são excluídas de desfiles da alta-costura

Por ERIC WILSON

Há cinco anos, a indústria da moda precisou enfrentar um acerto de contas a respeito da notável ausência de diversidade de modelos nas principais passarelas. Reagindo a queixas, a "Vogue", na sua edição de julho de 2008, apresentou um artigo cujo título era: "A moda é racista?".

Isso aconteceu pouco antes de Franca Sozzani, editora da "Vogue" italiana, publicar uma edição provocativa usando apenas modelos negras. A ex-modelo Bethann Hardison, que agora é agente, também promoveu debates sobre o tema na época.

Por fim, Diane von Furstenberg, presidente do Conselho de Estilistas de Moda dos EUA, pediu mais consciência aos filiados para que diversificassem a escolha de profissionais. Desde então, quase nada mudou.

Os desfiles em Nova York continuam tão dominados por modelos brancas quanto eram no final da década de 1990, no fim da era das supermodelos. Após um notável aumento em 2009, a representação das modelos negras se manteve praticamente a mesma até este ano.

O blog Jezebel, que monitora a participação de minorias nos desfiles, disse que modelos negras vestiram apenas 6% dos figurinos da New York Fashion Week de fevereiro (menos que os 8,1% dos desfiles de setembro de 2012); 82,7% das peças eram vestidas por modelos brancas.

Na Europa, onde Phebe Cilo, da Céline, Raf Simons, da Dior, e outros têm apresentado coleções inteiras sem usar nenhuma modelo negra, as oportunidades têm sido ainda menos favoráveis.

"Há algo de terrivelmente errado", disse Iman, uma das mais famosas modelos negras do mundo, que mais tarde criou uma empresa de cosméticos. Sua experiência nas décadas de 1980 e 1990, quando estilistas como Calvin Klein, Gianni Versace e Yves Saint Laurent rotineiramente escalavam negras, foi diferente da de jovens modelos não brancas da atualidade, quando o preconceito racial é declarado de forma quase explícita.

"Temos [nos EUA] um presidente e uma primeira-dama que são negros", disse Iman. "Você pode achar que as coisas mudaram, mas aí você percebe que não. Na verdade, retrocederam."

Para Hardison, o aspecto mais chocante da persistente falta de diversidade é a ausência de repercussão."Ninguém com poder peita esses estilistas", disse.

Na New York Fashion Week deste mês, Hardison organizou uma campanha nas redes sociais para promover a reprovação pública a estilistas que não usam modelos negras.

James Scully, diretor de casting cujos clientes incluem Tom Ford, Derek Lam e Stella McCartney, veio a público em março com uma crítica mordaz aos desfiles sem diversidade. "Eu sinto que a Dior é tão incisivamente branca que parece deliberado", disse ele num artigo no BuzzFeed.

Em julho, quando Simons apresentou sua coleção para a Dior, o desfile incluiu seis modelos negras, levando a especulações de que a mudança teria decorrido dos comentários de Scully. Naquela semana, a Prada lançou uma campanha com Malaika Firth, primeira modelo negra em quase 20 anos a aparecer na publicidade da marca. Representantes das duas grifes não quiseram comentar o assunto.

A Calvin Klein, que costumava diversificar, tem sido recriminada por usar muitas modelos brancas. No desfile deste mês em Nova York, houve sinais de que a pressão poderia motivar algumas mudanças.

Havia cinco modelos negras entre as 35 entradas no desfile da Calvin Klein no último dia. Mas, no geral, as mudanças foram pequenas: mais de metade dos estilistas criticados na temporada passada usou duas ou mais modelos negras nesta temporada, mas a maioria ficou mesmo só com duas. Muita gente observou que não havia modelos asiáticas no desfile.

Francisco Costa, diretor de criação de moda feminina da Calvin Klein, disse que a empresa busca rostos diversos, mas escreveu.

"Atualmente, há poucas modelos de cor de alto nível, treinadas profissionalmente. Elas acabam sendo contratadas por outras grifes e podem ser vistas sobre dúzias de passarelas a cada temporada, o que é contra aquilo que estamos procurando".

Riccardo Tisci, estilista da Givenchy conhecido por usar grande variedade de raças, idades e gêneros, diz que quem escolhe só modelos brancas é "preguiçoso". "Não há só gente branca no mundo", disse ele.

Veronica Webb, que topou com desculpas variadas durante sua carreira, na década de 1990, disse que a questão é importante para as jovens.

"Quando você vê alguém na passarela que se parece contigo, você se sente mais bonita. Isso cria uma sensação de pertencimento".


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