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New York Times

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ABDUL WASI HAMDARD

Artista afegão busca o respeito de conterrâneos

Por ROD NORDLAND

CABUL, Afeganistão - Em 1996, Abdul Wasi Hamdard fugiu do ódio do Taliban à arte moderna e se juntou aos milhões de compatriotas afegãos refugiados no Paquistão.

Num quartinho pouco maior que sua cama, ele vivia só, apenas com um cavalete.

"Eu pintava das 21h até o amanhecer todos os dias", diz ele. "Eu era muito feliz."

O resultado foi uma produção notável: 10 mil telas nos anos subsequentes, fazendo dele um dos mais bem-sucedidos jovens artistas afegãos.

Quando o Taliban caiu, no final de 2001, Hamdard, então perto dos 40 anos, voltou ao Afeganistão, e as galerias de Cabul compraram rapidamente suas pinturas. A capital estava cheia de estrangeiros, para os quais os preços das telas, a partir de US$ 100 (indo até poucos milhares de dólares para obras maiores), eram uma pechincha.

"Você encontra uma ou duas das minhas pinturas em todo canto do mundo", diz ele. As embaixadas da Índia e da Noruega já fizeram exposições com suas obras. A dos EUA tinha até uma pequena galeria com elas.

Seu amigo Karim Khosravi criou a Galeria Bamiyan, na Chicken Street, e se deu bem com a comissão de 30% sobre as telas de Hamdard. Uma sueca fez um site com a obra dele. O dinheiro pingava regularmente. Não era uma fortuna (sua obra mais cara, "Matrimônio", saiu por US$ 6.500), mas, na economia afegã, era bastante.

Ele se mudou para uma casa grande com seus sete irmãos, que são taxistas e funcionários de restaurantes, e sustentava a família inteira. Hamdard parou de pintar em casa, já que ela estava cheia demais. Mas, por honra e por cultura, manteve-se com os irmãos.

Dois parentes seus sofrem de doenças mentais e sua mãe teve um derrame que a deixou paralisada. Um dia sua casa desabou, e ele precisou reconstruí-la, o que arruinou suas economias.

"Se eu tivesse um ateliê e paz, eu faria pinturas felizes", disse. "Mas tenho muitos problemas."

Sua produção se tornou mais expressionista, abstrata, distorcida e escura. Muitas das telas que ele considera suas melhores pinturas residem no armário da pensão de um amigo seu.

As coisas mudaram em Cabul. Ataques importantes do Taliban, inclusive contra embaixadas e outras instalações que recebem estrangeiros, levaram a maiores restrições de segurança.

Os ocidentais deixaram de andar tão livremente pela Chicken Street. A sueca foi embora da cidade, e o site ficou estagnado. A Embaixada dos EUA fechou a galeria interna. O número de estrangeiros começou a diminuir com a aproximação do prazo para a retirada da Otan, em 2014. O mercado de arte, que depende fortemente da comunidade expatriada, declinou fortemente. Mas Hamdard se recusou a baixar seus preços. Durante algum tempo, ele produziu um tipo de pintura afegã clichê, tradicionalmente vendida a turistas -imagens de partidas de "buzkashi", um esporte afegão em que cavaleiros com tacos disputam uma carcaça de cabra.

Um dia, há dois anos, ele parou de pintar. Ele diz que se sente fracassado. "Como você se sentiria se a sua própria gente não admirasse o seu trabalho?", afirmou.

Os irmãos de Hamdard imploraram para que ele voltasse a pintar, mas ele arrumou um emprego na Universidade de Cabul ensinando desenho na graduação. Ganha um salário de US$ 140 por mês.

"Eu sei por que eles me incentivam a pintar -eles querem o dinheiro", diz. "Eu quero que eles admirem minha arte. Se alguma vez eles me falassem sobre arte como se deve, eu poderia mudar de ideia."


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