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New York Times

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Hollywood abre concessões à censura chinesa

Por MICHAEL CIEPLY e BROOKS BARNES

LOS ANGELES - Quando "Kung Fu Panda 3" estrear em 2016 nos cinemas da China, os vigilantes censores cinematográficos do país não terão nenhuma surpresa desagradável.

Afinal de contas, eles já monitoraram o filme na sede do estúdio DreamWorks Animation. A trama, a direção de arte e outros elementos criativos já passaram por seu crivo.

Estúdios que buscam lançar um filme no mercado chinês -hoje o segundo maior do mundo, atrás apenas do americano- ou realizar coproduções com empresas chinesas estão descobrindo que, em um país onde as noções de liberdade de expressão vigentes nos EUA simplesmente não se aplicam, lidar com a censura é parte do processo.

Disso dependem bilhões de dólares. As bilheterias não americanas são a força motriz por trás de alguns dos maiores filmes de Hollywood e costumam ter papel decisivo na realização ou não de uma obra.

Os estúdios baseiam-se em consultores, na experiência pregressa e, cada vez mais, em acenos informais de autoridades estrangeiras para avaliar se um filme passará pela censura.

"Qualquer filme sobre a China feito por forasteiros será muito delicado", disse Rob Cohen, que dirigiu "A Múmia: A Tumba do Imperador Dragão", uma coprodução da Universal Pictures com uma produtora chinesa.

Uma produção sob escrutínio é "O Homem de Ferro 3", da Disney e da Marvel, que recentemente teve trechos filmados em Pequim. Burocratas chineses foram convidados às filmagens e consultados sobre decisões criativas.

"A Vida de Pi", filme de Ang Lee indicado a 11 Oscars, enfrentou alguma resistência por uma fala em que uma personagem dizia que "religião é escuridão".

"Modificaram um pouco a tradução, por medo de provocarem as pessoas religiosas", disse Lee sobre o caso.

Hollywood está aderindo a produções que sejam compatíveis com um sistema de quotas que permite a distribuição de mais filmes internacionais no mercado chinês, onde longas-metragens em 3-D e no formato ampliado Imax são preferidos.

Ao mesmo tempo, o cinema americano evita temas e situações que possam causar conflitos com os censores vinculados à Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão da China.

Os estúdios rapidamente estão descobrindo que uma das chaves para ter acesso ao mercado da China é incluir atores, tramas e locações chineses.

Mas, quanto mais um filme aproxima-se da China, maior é a chance de que ele esbarre nos padrões fluidos, nas regras não escritas e nos poderes políticos desconhecidos com influência sobre o que pode ser visto nas cerca de 12 mil telas de cinema da China.

"A Múmia", rodado em 2007 em vários pontos da China, era uma fantasia histórica sobre um imperador malvado que é ressuscitado em 1946 por aventureiros estrangeiros.

O roteiro foi pré-aprovado por censores com mudanças mínimas -o nome do imperador precisava ser fictício, por exemplo.

Mas, ao rever o filme pronto, os chineses encontraram um problema mais profundo, segundo Cohen: "Os ocidentais brancos estavam salvando a China".

O filme foi aprovado, contou o diretor, mas seu lançamento atrasou.

Os estúdios têm buscado coproduções oficiais, em que uma produtora chinesa e um estúdio americano colaboram no financiamento e na criação de um filme, contornando assim o sistema chinês de quotas e deixando com suas distribuidoras 43% da bilheteria do filme, em vez dos 25% reservados a filmes estrangeiros.

A Disney e sua subsidiária Marvel torcem para que o governo considere "O Homem de Ferro 3" -que tem lançamento previsto para 3 de maio- como uma coprodução, em parte porque os dois episódios anteriores da série fizeram sucesso na China.

Os produtores fizeram uma apresentação aos censores no começo do processo e obtiveram um aval conceitual ao filme.

Segundo um grupo que assessora Hollywood, o departamento de censura chinês tem 37 membros, incluindo representantes do governo, cineastas, burocratas e grupos de interesse, como a Liga Juvenil Chinesa.

Para os americanos, a dificuldade é saber o que pode causar problemas repentinos com os censores chineses.

Em 2009, a Sony e uma parceira, a China Film Group, submeteram o roteiro de "Karate Kid" aos censores locais e alteraram parte do enredo.

Mas o filme foi rejeitado depois de pronto basicamente porque os burocratas não gostaram do fato de que o vilão fosse chinês. Doze minutos foram cortados, e o filme foi lançado na China.

Steven Soderbergh, cujo longa "Contágio" foi parcialmente filmado em Hong Kong, disse que a participação dos censores chineses foi parte do coro de palpites que cerca todo cineasta de grande orçamento.

"Não fico moralmente ofendido nem ultrajado", afirmou.

"É fascinante escutar as interpretações das pessoas para a sua história."


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