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O Papa no Brasil

Acampamento da fé

Fiéis com barracas e sacos de dormir disputaram espaço na areia e em calçadas de Copacabana

LUCAS VETTORAZZO DO RIO

Uma manta multicolorida formada por milhões de sacos de dormir, colchões infláveis e barracas de camping cobriu a orla de Copacabana. Palco da maior festa de Réveillon do país, o local se transformou num imenso acampamento, na vigília de sábado para domingo da Jornada Mundial da Juventude.

Em vez da procura por quartos de hotéis, a disputa acabou sendo por um metro quadrado de areia ou de calçada, da avenida Atlântica.

O asfalto, a praia e postos de gasolina foram tomados por peregrinos preparando-se para dormir. Os hóspedes do Copacabana Palace, por exemplo, não conseguiam entrar pela porta da frente do hotel porque o local estava ocupado pelo acampamento.

Os missionários pareciam não se importar com a falta de estrutura. O clima era de ordem, compreensão e de comemoração pela noite de céu limpo e as temperaturas amenas --média de 17°C.

Nenhuma confusão foi presenciada pela Folha. Mas houve troca de farpas entre manifestantes políticos e os religiosos: no começo da noite, um grupo que gritava "fora Cabral" foi para areia, e uma menina gritou que Maria Madalena era prostituta e que Jesus, se estivesse ali, estaria do lado das manifestações e não dos católicos. Recebeu uma sonora vaia.

Alguns religiosos da Bolívia sentaram-se e começaram a rezar, mas a maioria entoava: "Esa és la juventud de papa" ("esta é a juventude do papa"). Imediatamente, veio a resposta de manifestantes: "Esta é a juventude livre".

Após a noite agitada, durante a qual peregrinos acompanharam a missa do papa e as orações que se seguiram, a madrugada correu tranquila. Muitos foram dormir logo após se encerrarem as apresentações sobre o palco.

Os mais jovens permaneciam na avenida Atlântica, cantando e dançando, mas já não se ouvia mais coros entusiasmados da tradicional "esta é a juventude do papa". Muitos fizeram preces em silêncio, ajoelhados em sacos de dormir, e depois deitaram.

Às 4h, a praia de Copacabana estava em silêncio. Era possível ver e ouvir da calçada o som das ondas fortes.

Americanos de um colégio jesuíta resolveram mergulhar. Outros fizeram trincheiras de areia para se proteger da maré. Ali, ninguém acordou molhado. Mas, em outro ponto, o mar acordou um grupo, encharcou seus sacos de dormir e levou a comida.

O grande vilão foram os banheiros químicos, em número inferior ao necessário. De manhã, formou-se à porta da 12ª DP uma fila com mais de 30 pessoas. Nenhuma delas estava ali para reportar crimes. Estava na fila do banheiro, cedido à população.

ÁGUA NAS CANELAS

Durante a noite, em alguns banheiros químicos, a espera mínima na fila era de 20 minutos. O mau cheiro se espalhava pela orla.

Com a falta de lavatórios, previstos para Guaratiba e ausentes em Copacabana, peregrinos escovavam os dentes e, sem opção, cuspiam em canteiros ou na areia.

Às 6h40, o sol nasceu sob aplausos. Freiras rezaram antes de tomar café da manhã. A temperatura era de 15°C quando a organização tocou o tema da Jornada Mundial da Juventude, às 7h.

As pessoas acordavam aos poucos, na medida em que o sol ficava mais forte. Muitos jovens começaram a tomar banho de mar. Uma peregrina estrangeira quase ficou com os seios à mostra quando uma onda desarrumou seu biquíni. Ela estava próxima a uma freira, que molhava as canelas, levantando a bata.

Logo ao amanhecer, o estudante de matemática Leandro Souza Vieira, 22, saiu de dentro da água gritando para os amigos que o mar era "salgado mesmo". Natural de São Miguel do Anta, na zona na mata mineira, Vieira nunca havia visto o oceano. Ele mergulhava extasiado: "O papa é a santidade, mas o mar foi Deus quem fez pra gente".


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