Descrição de chapéu artes plásticas

Na exposição 'Auto', Carlos Nader dialoga com autismo do filho

Crédito: Divulgação O documentarista Carlos Nader
O documentarista Carlos Nader

ISABELLA MENON
DE SÃO PAULO

Documentarista e vencedor de três prêmios no festival "É Tudo Verdade", Carlos Nader começou a carreira produzindo videoinstalações, nos anos 1980 e 1990.

Esse lado foi abandonado logo após o nascimento do seu filho Teo, hoje com 17 anos. Diagnosticado com autismo desde um ano e meio de idade, o garoto jamais gostou de ser gravado ou fotografado. Por isso, o pai não se sentia à vontade em retratá-lo nos documentários.

Ao longo dos anos, porém, quando seguiu a carreira de documentarista e produziu longas como "Preto e Branco" (2004) e "A Paixão de JL" (2015), Nader passou a compreender a visão do mundo do filho, que, apesar de não se comunicar verbalmente, expressa-se por meio de outros signos, comenta o pai.

"O Teo é um artista", conta Nader. O cineasta afirma ser "suspeito para falar", mas classifica o filho como criativo e observador.

Nader encontrou uma maneira de unir as observações do filho com o lado da profissão que queria resgatar. É o que ele apresenta na mostra "Auto", que abre nesta terça-feira (30) na galeria Lume.

O nome da exposição é uma referência à síndrome do filho. "O autismo foi descoberto depois da Segunda Guerra Mundial pelo psiquiatra Leo Kanner (1894-1981), que o designou por seus portadores terem uma aparência de estarem fechados em si mesmo", explica Nader.

A mostra é composta de sete videoinstalações, sendo três inéditas e produzidas em parceria com Teo. Essas são obras que dialogam com a visão de mundo dele, como as imagens em repetição e movimentos circulares presentes na maioria dos trabalhos.

Mesmo as videoinstalações mais antigas contam com esses formatos (circulares, de repetição), que Nader denomina "estética do autismo".

"A parceria com o Teo foi feita a partir da minha criação sob a observação de situações sob a perspectiva dele", explica o artista.

CENSURA

"Auto" começou a ser pensada em setembro de 2017, em meio à onda de protestos contra exposições no Brasil, como as manifestações que levaram ao fechamento da mostra "Queermuseu" em Porto Alegre.

Por isso, Nader escolheu duas obras antigas para compor a sua individual. São elas "Cross" (2004), com corpos nus de diferentes etnias que se alteram constantemente entre o feminino e masculino, e "Vento Luz III" (1999).

A última é uma composição de imagens de bailarinos da época da rainha Vitória (1819-1901), "ou seja, sinônimo da caretice, em que as pessoas já posavam peladas", ironiza o cineasta, referindo-se às recentes polêmicas envolvendo nus artísticos, como a performance de Wagner Schwartz no MAM, em que uma criança tocou no coreógrafo nu.

"Vento Luz III" foi utilizada em uma exposição no MAM no começo dos anos 2000. Nader conta que agora lhe perguntaram se o trabalho deveria conter classificação indicativa. "Eu achei um absurdo, porque já tinha exposto isso há 20 anos", conta.

AUTO
Saiba mais sobre a exposição.
QUANDO abertura nesta terça (30); seg. a sex. das 10h às 19h; até 17/3
ONDE Galeria Lume, r. Gumercindo Saraiva, 74, tel. (11) 4883-0351
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