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Alemão 'O Caminho dos Sonhos' nos atinge via perda, desconexão e abandono

Diretora Angela Schanelec privilegia o fragmento e o detalhe em vez de narrativa convencional

Miriam Jakob em 'O Caminho dos Sonhos', filme da alemã Angela Schanelec
Miriam Jakob em 'O Caminho dos Sonhos', da alemã Angela Schanelec - Divulgação
Cássio Starling Carlos

O Caminho dos Sonhos (Der Traumhafte Weg)

  • Quando . Estreia nesta quinta (14)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Miriam Jakob, Thorbjörn Björnsson, Maren Eggert
  • Produção Alemanha, 2016
  • Direção Angela Schanelec

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Além dos filmes que todo mundo gosta de se ver para se distrair, se emocionar ou se esquecer dos problemas, existem os chamados “difíceis”, que exigem mais que atenção. “O Caminho dos Sonhos”, nono longa da alemã Angela Schanelec, faz parte desse grupo cada vez mais raro de obra que pode irritar quem só quer histórias prontas para consumo.

Em vez da impressão de unidade, totalidade e progressão que encontramos nas narrativas convencionais, o cinema de Schanelec privilegia o fragmento e o detalhe.

Desde seus primeiros trabalhos nos anos 1990, Schanelec foi identificada como representante de uma geração, agrupada como Escola de Berlim, que propunha uma linguagem capaz de expressar o sentimento de desconexão, de ser estranho na Alemanha recém-unificada ou estrangeiro na União Europeia.

Estar fora ou longe como símbolo de não ter lugar ou não reconhecer uma origem é um tema que a diretora reiterou numa produção esparsa, mas coerente e rigorosa em suas escolhas formais.

As questões reaparecem logo no início de “O Caminho dos Sonhos” por meio de planos que privilegiam partes, pés, mãos, closes de objetos, antes de apresentar personagens ou caracterizá-los por meio de ações.

Esse tipo de estética prolonga-se na narrativa, que oferece impressões fugazes de um casal de jovens na Grécia em um tempo distinto do presente. Eles estão longe de casa e a chegada de uma má notícia introduz uma interrupção no fluxo romântico e estival desse prólogo.

Rupturas, mudanças de rumo, desencontros e despedidas tornam-se a partir daí situações recorrentes no filme e ecoam na forma da narrativa, que privilegia o descontínuo e o aleatório.

O rapaz retorna para casa, onde encontra a mãe doente, recupera uma barra de chocolate esquecida e assiste, na TV, à multidão fugindo do regime comunista da Alemanha Oriental na época da queda do Muro de Berlim.

A transição destas indicações vagas de situações no passado para outras ambientadas no presente não modifica o aspecto lacunar, característica mais evidente de “O Caminho dos Sonhos” e que frustra o impulso de obter um significado claro para a história.

No lugar de entendimento, o cinema de Schanelec prefere expressar sentimentos de perda, de desconexão, de abandono e assim nos atingir de modo mais direto.

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