DO "FINANCIAL TIMES"

Em outubro, a Ripple, empresa criada cinco anos atrás, se vangloriou de ser uma das "start-ups mais valiosas" dos EUA, "atrás de Uber, Airbnb, Palantir e WeWork".

Ainda que seu negócio central, de tecnologia para o setor financeiro, não tenha causado muito desordenamento, a mania das criptomoedas gerou forte crescimento para o XRP, a moeda digital criada pela Ripple.

A cotação do XRP subiu 36.000% em 2017 e atingiu valor de mercado semelhante ao do bitcoin —as reservas da Ripple eram avaliadas em US$ 200 bilhões, no Natal.

O XRP é uma criptomoeda singular. Diferentemente do bitcoin, rebelde e descentralizado e criado depois da crise financeira em meio a uma onda de desconfiança quanto aos bancos, o objetivo do XRP supostamente é o de azeitar a obsoleta infraestrutura dos serviços bancários.

Crédito: Peter DaSilva/The New York Times Chris Larsen, fundador do Ripple
Chris Larsen, fundador do Ripple

Mas a galinha dos ovos de ouro da Ripple, cuja cotação caiu nas últimas semanas, gera perguntas desconfortáveis.

Embora as soluções de tecnologia da empresa para sistemas rápidos de pagamentos impressionem alguns financistas, a volatilidade do XRP, e o fato de que a Ripple detenha mais de metade dos 100 bilhões de XRP emitidos até agora (só Chris Larsen, um de seus fundadores, teria 5,2 bilhões), enerva os bancos, que os proponentes da moeda esperavam viessem a adotá-la como moeda-ponte.

A Ripple quer desbancar a Swift, uma rede internacional de pagamentos que é controlada por cerca de 11 mil bancos e os conecta.

Ela prometa acelerar os pagamentos internacionais por meio do uso de tecnologia blockchain para a troca de mensagens pelos bancos, e oferece o XRP como uma moeda-ponte universal e barata.

Para isso, no entanto, há alguns desafios. Um deles é a volatilidade da cotação da moeda e as dúvidas sobre o aspecto regulatória dela.

O outro problema da Ripple, diz Hank Uberoi, presidente-executivo da Earthport, é conquistar número suficiente de bancos como clientes para atingir a escala necessária a desafiar o Swift.

"O sistema só tem valor se todo mundo estiver conectado à rede. É como uma máquina de fax: se outras pessoas não tiverem um aparelho, a coisa não tem muito uso."

O XRP deve ser visto como "o óleo no motor do carro", disse Greg Kidd, antigo vice-presidente da Ripple e que hoje comanda a Synthetic Liquidity, empresa que fornece liquidez e está testando o XRP por meio da transferência de pequenos montantes. Os bancos "não precisariam de grande volume dela, realmente".

A Ripple afirma que mais de cem instituições financeiras adotaram pelo menos um de seus produtos.

Ela anunciou recentemente um novo projeto-piloto com o MoneyGram, um serviço de transferência de fundos, que envolverá o XRP. Mas, embora tenha mencionado projetos com Santander, que investiu na Ripple, e American Express, outros potenciais parceiros hesitaram em ir além do estágio de teste.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.