Governo dos EUA impõe 'mordaça' a funcionários, dizem agências

DA REUTERS
DE SÃO PAULO

Funcionários de mais de uma dúzia de agências do governo dos EUA estabeleceram várias contas extraoficiais em redes sociais para desafiar o que entendem como esforços do presidente Donald Trump para "amordaçar" as pesquisas federais sobre a mudança do clima e outros temas.

Cientistas da Agência de Proteção Ambiental (EPA), da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) e de outras agências criaram contas privadas no Twitter —tomando de empréstimo os nomes e logotipos das agências para as quais trabalham— a fim de protestar contra as restrições, que eles veem como censura.

Eles usam as plataformas com o objetivo de divulgar informações cuja distribuição o governo estaria cerceando.

"Mal posso esperar para que o presidente Trump nos defina como FALSAS NOTÍCIAS", escreveu um funcionário do Serviço Nacional de Parques usando a conta @AltNatParkService.

A conta @RogueNASA trazia um alerta inicial que a definia como uma "equipe extraoficial de 'resistência' da Nasa, e não uma conta oficial da Nasa". A conta convidava leitores a seguir atualizações "para notícias e fatos sobre ciência e clima. NOTÍCIAS REAIS. FATOS REAIS".

O movimento começou depois de instruções internas recebidas por diversas agências envolvidas em questões ambientais, determinando que restrinjam a disseminação de dados ao público.

Na semana passada, os funcionários do Departamento do Interior foram instruídos a parar de tuitar depois que um deles retransmitiu mensagens sobre o público da posse de Trump —motivo de disputa entre a Casa Branca e a mídia americana— e sobre a retirada de material quanto à mudança do clima e os direitos civis do site oficial da Casa Branca.

As restrições reforçaram as preocupações quanto à possibilidade de que Trump, cético declarado quanto à mudança do clima, esteja determinado a paralisar pesquisas de agências federais que demonstram que as emissões de poluentes causadas pela queima de combustível fóssil e outras atividades humanas contribuem para o aquecimento global.

Uma conta com o nome @ungaggedEPA [EPA sem mordaça] convidava os leitores a visitar seus feeds de "notícias sem censura, links e conversações que a Agência de Proteção Ambiental já não pode levar a vocês". O texto acrescentava que a conta "não está oficialmente afiliada à @EPA".

Os funcionários do governo dos EUA logo receberam a adesão de contas "alternativas" de Twitter semelhantes, originárias de diversas agências de saúde e ciência, entre as quais a Food and Drug Administration, que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios; os Institutos Nacionais de Saúde; os Centros de Controle e Prevenção de Doenças; e o Serviço Meteorológico Nacional. Muitas das mensagens traziam as hashtags #resista e #resistência.

Uma conta extraoficial do Badlands National Park chamada @BadHombreNPS também apareceu (o nome é referência a uma das declarações de Trump em sua campanha presidencial, sobre imigrantes mexicanos serem "bad hombres" ), a fim de postar material eliminado do site oficial do parque.

Trump não se pronunciou sobre o protesto dos funcionários do governo —ele também costuma usar as redes sociais para se manifestar.

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