Casa Branca levou 18 dias para demitir auxiliar após mentira, diz depoimento

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

A ex-secretária de Justiça interina Sally Yates disse, nesta segunda-feira (8), que alertou a Casa Branca que o então conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn poderia ser alvo de chantagem da Rússia 18 dias antes de ele deixar o governo, em fevereiro.

Em depoimento ao Comitê de Justiça do Senado, Yates disse ter informado Don McGahn, conselheiro de Trump, no dia 26 de janeiro, em reunião na Casa Branca, que Flynn havia mentido ao vice-presidente, Mike Pence, sobre os contatos com os russos.

Yates, que então ocupava interinamente o posto de secretária de Justiça, antes da aprovação de Jeff Sessions pelo Congresso, conversaria mais duas vezes com McGahn –no dia seguinte e no dia 30. Flynn só foi levado a renunciar em 13 de fevereiro, depois que a imprensa americana divulgou que ele teria conversado sobre sanções com o embaixador russo no país, Sergei Kislyak.

Segundo a Casa Branca, Flynn disse a Pence que o assunto não havia sido discutido com o diplomata da Rússia. A mentira, segundo o governo Trump, foi o que levou à queda do conselheiro de Segurança Nacional por quebra de confiança.

O que ficou claro nesta segunda, com o depoimento de Yates, contudo, foi o fato de que Trump deixou Flynn no posto por quase 20 dias depois de a Casa Branca ter sido informada sobre a mentira do conselheiro e de sua vulnerabilidade perante Moscou -que teria evidências sobre o conteúdo das conversas.

"[Os russos] provavelmente tinham prova dessas informações e isso criava uma situação comprometedora -uma situação na qual o conselheiro de Segurança Nacional poderia ser chantageado pelos russos", disse Yates no Senado. "Dissemos a eles que estávamos dando essas informações para que eles tomassem uma ação."

Em resposta, Trump escreveu em sua conta no Twitter que Yates deixou "extremamente triste" a "mídia falsa" por não trazer nada novo em seu depoimento sobre a possível relação entre membros da equipe de Trump e Moscou durante a campanha. A audiência no Senado faz parte das investigações sobre a interferência russa nas eleições de 2016.

"A conspiração Rússia-Trump é uma fraude total, quando esse teatro bancado pelo contribuinte vai acabar?", disse o presidente, em relação à investigação no Senado.

A secretária de Justiça interina foi demitida por Trump um dia após a última conversa com McGahn, após orientar os membros do Departamento de Justiça a não seguirem o decreto presidencial para barrar cidadãos de sete países de maioria muçulmana.

Nesta segunda, Yates repetiu que o decreto de Trump era "ilegal".

A audiência no Senado foi a primeira vez que Yates falou publicamente desde a sua demissão, em 31 de janeiro.

CONSELHO

Também nesta segunda, jornais americanos citaram fontes próximas a Barack Obama para dizer que o democrata, então presidente, havia alertado, em seu encontro com Trump em novembro, na Casa Branca, que o sucessor não levasse Flynn para seu governo.

Segundo os ex-funcionários do governo Obama, o democrata -que havia demitido Flynn da chefia da Agência de Inteligência de Defesa- disse a Trump ter "preocupações profundas" sobre Flynn se tornar o principal conselheiro de segurança nacional do futuro presidente. O republicano teria ignorado a opinião de Obama.

Trump também respondeu a essas reportagens com ironia, nesta segunda: "O general Flynn recebeu a mais alta autorização de segurança pelo governo Obama, mas a falsa imprensa não gosta de falar sobre isso".

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