Coreia do Sul busca meios de se proteger da ameaça de Kim Jong-un

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

Pressionada pela frenética atividade nuclear e balística da ditadura de Kim Jong-un, a Coreia do Sul discute abertamente planos para tentar conter a ameaça do vizinho.

O ministro da Defesa do país, Song Young-moo, disse que os Estados Unidos deveriam voltar a posicionar "ativos estratégicos" em solo sul-coreano —incluindo armas nucleares táticas, ou seja, limitadas a alvos militares.

Song tocou num tema sensível, já que os EUA retiraram do país as cem ogivas que mantinham em 1991 e, nos anos que se seguiram, a Coreia do Sul adotou a política da desnuclearização da península, dividida em 1953.

Tal sugestão vem em hora complexa. Principais fiadores da defesa sul-coreana, os EUA pressionam Seul a assumir uma atitude mais incisiva contra Pyongyang.

Risco coreano
Entenda a crise

O governo do presidente Moon Jae-in, eleito neste ano, buscou abaixar a temperatura, sugerindo negociações no momento em que Donald Trump decidiu elevar a pressão sobre Kim.

O americano mordeu e assoprou. Na primeira modalidade, ameaçou deixar o acordo de comércio que os EUA mantêm com a Coreia do Sul.

Na segunda, reafirmou o comprometimento militar ao anunciar, nesta terça (5), o fim de limitações de carga para mísseis sul-coreanos.

Seul é signatária de um acordo com Washington segundo o qual sua família de foguetes Hyonmmu só pode ter 800 km de alcance —o suficiente para atingir Pyongyang, mas não ameaçar Pequim e o equilíbrio regional.

Até aqui, eles podiam levar até 500 kg de explosivos. Agora, liberados para o quanto for possível, o que leva à especulação se a Coreia do Sul buscaria um programa próprio de armas nucleares para equipá-los.

Como o Japão, o país adere a tratados de desarmamento nuclear e nega a intenção, mas a discussão sobre o tema é franca, como explicitou um dos principais líderes conservadores sul-coreanos, o deputado Won Yoo-chul.

No ano passado, ele afirmou que estava na hora de a Coreia do Sul ter "seu próprio guarda-chuva", em referência ao jargão da proteção nuclear americana.

Como Tóquio, Seul pode em tese ter sua bomba.

Seu programa atômico começou em 1970, mas foi suspenso em 1975 com a adesão ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, após pressão dos EUA. A tecnologia ficou à mão, e há um sofisticado parque nuclear civil.

Enquanto o Japão pode ter a arma, se desejar, em talvez um ano, especialistas creem que a Coreia do Sul poderia obtê-la em um ano e meio ou dois. Não se sabe, contudo, o quanto de matéria-prima teria à disposição a partir de seus 24 reatores nucleares.

O que se sabe é que até 2004 o país experimentou enriquecer urânio e plutônio em pequenas quantidades, até ser flagrado por inspetores internacionais e se desculpar.

Assim, a Coreia do Sul se ampara nos EUA e em seu próprio potencial militar.

Embora com a metade do tamanho da rival ao norte, com 630 mil homens, suas Forças Armadas têm equipamento muito superior à obsoleta coleção de relíquias soviéticas e chinesas à disposição de Pyongyang.

A questão é que a proximidade dos países anula um pouco essas vantagens, dado que é certo o poder destrutivo da artilharia convencional norte-coreana e a eficácia de suas defesas antiaéreas. Isso para não falar no uso das armas nucleares de Kim, algo entre 10 e 60 ogivas.

O reforço na defesa antimíssil com o sistema americano THAAD, instalado neste ano, é bem-vindo para Seul, mas não garante necessariamente eficácia porque seriam usados contra a Coreia do Sul mísseis menores e de alcance mais curto –que teriam de ser alvejados por outro tipo de bateria antiaérea, a Patriot.

Crédito: Editoria de Arte/Folhapress
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