Tarragona e Barcelona querem se separar de secessionistas da Catalunha

Crédito: Albert Gea - 17.jan.2018/Reuters Torcedores do Espanyol agitam bandeiras da Espanha e da Catalunha em jogo contra o Barcelona
Torcedores do Espanyol agitam bandeiras da Espanha e da Catalunha em jogo contra o Barcelona

DIOGO BERCITO
DE MADRI

Desgostosos com os avanços do separatismo catalão, ativistas da região da "Tabarnia" estão promovendo uma espécie de secessionismo ao contrário: prometem abandonar a Catalunha caso ela se separe da Espanha.

Esses militantes reclamam que as províncias costeiras de Tarragona e Barcelona —o nome criado é uma mistura desses dois— não votaram nos partidos secessionistas e preferem, portanto, continuar sendo espanholas.

Crédito:

A ideia, que já circula há alguns anos, ganhou impulso com o plebiscito separatista de 1° de outubro e com as eleições regionais de 21 de dezembro, em que independentistas obtiveram 70 das 135 vagas do Parlamento catalão.

Apesar de os partidos separatistas ocuparem a maioria das cadeiras da Casa, eles não receberam a maior parte dos votos em Tarragona e Barcelona. Eles registraram, respectivamente, 49% e 44% dos votos. As porcentagens demonstram, para os ativistas, que são regiões contrárias à independência.

Uma semana após as eleições, "Tabarnia" era uma das palavras mais usadas na Espanha na rede social Twitter.

Os "tabarneses" —gentílico sugerido pela própria Real Academia Espanhola, após consultas— criaram uma petição on-line por sua independência do restante da Catalunha, já com quase 300 mil assinaturas.

A imprensa espanhola a princípio tratou "Tabarnia" como sátira.

Mas, apesar do bom humor de seus líderes, eles insistem à Folha: a proposta é séria. Se os catalães de fato se separarem da Espanha, como promete o Parlamento empossado na quarta-feira (17), tabarneses vão pedir a sua separação da Catalunha.

Enquanto esse cenário extremo parece improvável, o objetivo do movimento Tabarnia é imitar o discurso dos separatistas catalães e, com isso, expor suas contradições. O ativismo serve, hoje, como recurso retórico, repetindo os argumentos dos inimigos.

"Não queremos chegar à independência, e sim criar esse espelho e colocar os independentistas diante de seu próprio absurdo", diz à reportagem o porta-voz e líder tabarnês Jaume Vives. "Queremos frear esse absurdo."

EXÍLIO

Na terça (16), em uma concorrida entrevista coletiva em Barcelona, tabarneses escolheram seu presidente em exílio: o renomado dramaturgo catalão Albert Boadella, 74, que atualmente está em Madri.

A escolha de um líder residindo fora do território da região não foi acidental e serve também de espelho ao separatismo catalão.

O ex-presidente catalão, Carles Puigdemont, está foragido em Bruxelas e espera tomar posse até o fim deste mês via Skype —procurado pela Espanha, ele provavelmente será detido assim que retornar a Barcelona. Boadella fez seu discurso de posse por vídeo, provocando Puigdemont.

A nomeação do dramaturgo serve também de crítica ao ambiente intelectual na Catalunha, de onde o artista se mudou alegando sofrer boicote de nacionalistas. "Somos estigmatizados por pensar diferente daqueles que nos governam", diz.

Os tabarneses desenharam sua própria bandeira, vendida por R$ 80 na página oficial do projeto.

Entre faixas amarelas e vermelhas há uma representação de São Jorge "amansando o dragão do nacionalismo", segundo a própria descrição do produto.

Ao seu pé, uma frase em latim: "acta est fabula", com que os romanos diziam: "a peça foi representada".

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.