Navio ligado a envio de armas da Coreia do Norte para a Rússia está atracado na China, mostra satélite

Segundo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, presença de embarcação foi discutida com autoridades chinesas

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Michael Martina David Brunnstrom
Washington | Reuters

Um navio de carga russo alvo de sanções dos Estados Unidos e implicado na transferência de armas da Coreia do Norte para Moscou está atracado na China, mostram imagens de satélite obtidas pela agência de notícias Reuters.

Fotos de empresas como a Planet Labs PBC, com sede em San Francisco, obtidas nos últimos meses pelo Rusi (Royal United Services Institute), do Reino Unido, mostram que o navio Angara está ancorado desde fevereiro no estaleiro Zhoushan Xinya, na província chinesa de Zhejiang.

Navio de carga Angara é identificado atracado na China pelo Royal United Services Institute - Planet Labs PBC/via Reuters

Desde agosto de 2023, a embarcação de propriedade da companhia M Leasing, alvo de sanções em maio de 2022 pelos EUA por "transporte de armas e outros equipamentos militares" de interesse do Kremlin, segundo Washington, move para portos russos milhares de contêineres.

Agora, a presença da embarcação na China revela os desafios enfrentados pelos EUA e seus aliados para sufocar o apoio militar e econômico à Rússia em um momento de preocupações com o apoio de Pequim a Moscou na Guerra da Ucrânia.

Sob uma nova ofensiva russa, Kiev sofre com escassez de munição enquanto autoridades dos EUA emitem advertências cada vez mais severas sobre o que dizem ser uma ajuda da China na reconstrução militar de Moscou.

Um porta-voz do Departamento de Estado americano disse à Reuters estar ciente dos relatos de que o Angara estaria atracado em um porto chinês e afirmou que a pasta abordou o tema com autoridades chinesas, além de ter pedido para que os países cumpram a resolução da ONU que restringe o comércio com a Coreia do Norte.

Ainda segundo esse funcionário, Antony Blinken, chefe do departamento, vai mencionar a Guerra da Ucrânia em sua visita à China nesta semana. Em Xangai, Blinken defendeu nesta quinta-feira (25) a necessidade de administrar "de forma responsável" as diferenças entre Washington e Pequim.

O navio foi identificado por meio de seu sistema de identificação automática (AIS), que foi brevemente ligado, provavelmente por motivos de segurança, enquanto navegava em um trecho movimentado do Estreito da Coreia a caminho da China.

O Rusi diz que, antes de chegar à China em 9 de fevereiro, aparentemente para reparos ou manutenção, o Angara havia atracado em janeiro em portos da Coreia do Norte e da Rússia com seu dispositivo de comunicação desligado. A embarcação parou de transmitir sinal logo após chegar à China.

O navio havia realizado pelo menos 11 entregas entre o porto norte-coreano de Rajin e portos russos desde agosto de 2023, de acordo com o Rusi, que tem monitorado seus movimentos como parte de um projeto que usa dados de fontes abertas para monitorar as violações às sanções da Coreia do Norte.

A embaixada da China em Washington diz não estar ciente dos detalhes relacionados ao Angara, mas reafirmou sua oposição a sanções que, na visão do país, "não têm base no direito internacional". O Ministério das Relações Exteriores da China também disse que não tinha informações sobre o assunto.

Para os EUA e dezenas de outros países, as transferências de armas da Coreia do Norte para a Rússia violam resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Joseph Byrne, pesquisador do Rusi, disse que o regime chinês deveria saber que o navio alvo de sanções dos EUA estava atracado em seu estaleiro. "Se a China permitir que o Angara saia do porto sem inspeção e reparado, então provavelmente não vai tomar nenhuma atitude contra esses navios russos", afirmou Byrne.

Washington tem pedido repetidamente que a China não ajude a Rússia na Guerra da Ucrânia, que começou em fevereiro de 2022, semanas depois de Moscou e Pequim declararem uma "parceria sem limites".

Blinken criticou na semana passada o apoio chinês à indústria de defesa da Rússia, dizendo que Pequim é atualmente o principal contribuinte para o conflito por meio do fornecimento de componentes para armamentos.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia e o Estaleiro Zhoushan Xinya não responderam a pedidos de comentários sobre o Angara.

O site da empresa diz que seus clientes vêm de Ásia, Europa e EUA e afirma ter "cooperação estratégica" com empresas de navegação globais, incluindo Maersk e a Evergreen Marine Corp de Taiwan, bem como parcerias com empresas de tecnologia europeias.

Tanto a Rússia quanto a Coreia do Norte rejeitam críticas sobre as supostas transferências de armas. Moscou diz que firmará laços com os países que desejar e que sua cooperação com Pyongyang não viola acordos internacionais.

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