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Irã acaba com 'paciência estratégica' em ataque a Israel para recriar dissuasão

Mensagem que fica para Tel Aviv após ofensiva é de que iranianos são 'mais loucos do que pensam', diz informante

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Najmeh Bozorgmehr Bita Ghaffari
Londres e Teerã | Financial Times

Horas depois de o Irã lançar mísseis e drones explosivos contra Israel, chefes militares iranianos declararam "missão cumprida", tendo implementado uma mudança de tática projetada para restaurar a dissuasão da república islâmica.

Ao lançar pela primeira vez um ataque direto contra seu inimigo de longa data, Teerã pretendia que a ofensiva fosse uma exibição musculosa de força —se claramente sinalizada— que trouxesse à tona sua longa guerra nas sombras com o Estado judeu.

Nenhum dos 170 drones lançados chegou ao espaço aéreo israelense. De acordo com as Forças de Defesa de Israel, dos 30 mísseis de cruzeiro, 25 foram abatidos antes de cruzar as fronteiras da nação e a maioria dos 120 mísseis balísticos foi destruída pelos sistemas de defesa aérea.

Homens com braços estendidos em meio à multidão e bandeiras do Irã ao fundo
Manifestantes iranianos em Teerã reagem após o ataque iraniano a Israel - 14.abr.24/Reuters

No Irã, porém, a operação foi aclamada como um sucesso: uma resposta calibrada para restaurar seu poder de dissuasão e fortalecer sua imagem entre parceiros regionais e apoiadores domésticos. Também foi vista como uma prova de que Teerã faz valer suas ameaças e está pronto para tomar ação decisiva quando provocada.

"A mensagem do Irã foi clara: somos mais loucos do que vocês pensam e estamos preparados para suportar as consequências da guerra, se necessário", disse um informante de dentro do regime. "O objetivo é que isso sirva como dissuasão e um sinal para os EUA e Israel de que 'chega'."

A decisão de lançar um ataque direto a Israel marcou um significativo risco político para o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, que tradicionalmente adotou uma política de "paciência estratégica" em resposta a inimigos.

Isso significa que o principal tomador de decisões do país buscou evitar conflitos diretos, mesmo depois de Teerã ter acusado Israel de assassinar cientistas nucleares iranianos e autoridades de segurança dentro da república islâmica. Em vez disso, o Irã tem se baseado em guerras assimétricas e no uso de procuradores regionais, como o Hezbollah, assim como milícias no Iraque e na Síria.

Ahmad Dastmalchian, ex-embaixador do Irã no Líbano, disse que o ataque a Israel "abriu um novo capítulo na política de defesa do Irã" e representou uma "mudança de paradigma, da paciência estratégica para uma defesa em camadas".

Esse ataque foi lançado em retaliação a um suposto bombardeio israelense ao consulado do Irã em Damasco que matou sete membros da Guarda Revolucionária, incluindo dois oficiais superiores.

Israel realizou uma série de ataques contra alvos iranianos na Síria desde o ataque do Hamas em 7 de outubro, que desencadeou a guerra em Gaza e provocou uma onda de hostilidades regionais envolvendo grupos apoiados pelo Irã.

Pelo menos 18 membros da Guarda Revolucionária foram mortos na Síria, enquanto os ataques israelenses no sul do Líbano mataram mais de 250 combatentes do Hezbollah, grupo aliado mais poderoso e importante do Irã. Enquanto isso, autoridades iranianas repetidamente disseram que Teerã queria evitar uma guerra regional mais ampla ou um conflito direto com Israel.

Ao mesmo tempo, Teerã considera que o ataque em Damasco cruzou uma linha vermelha, e também está preocupado que a falta de resposta "só encorajaria mais ameaças israelenses e retrataria o Irã como fraco", de acordo com o informante do regime.

Autoridades iranianas descreveram o ataque como "limitado", com o lançamento de drones e mísseis projetado para atingir uma base aérea e um centro de inteligência que, segundo eles, Israel usou em seu ataque ao consulado de Damasco em 1º de abril.

"É verdade que Israel interceptou um grande número de drones 'kamikaze'. Mas ao lançar uma bateria de drones, o objetivo do Irã era sobrecarregar a defesa aérea em camadas de Israel para que seus mísseis pudessem penetrar no sistema", disse Hamid-Reza Taraghi, político conservador iraniano. "A república islâmica conseguiu atingir uma base militar chave com sete mísseis."

As forças armadas israelenses disseram que o ataque causou danos mínimos a uma base aérea no sul do país. Não foram relatadas fatalidades durante o bombardeio da noite, embora uma criança tenha sido gravemente ferida por estilhaços que caíram após uma interceptação.

O major general Hossein Salami, comandante iraniano, disse que o ataque do país persa "poderia ter sido muito maior, mas o restringimos para apenas atacar instalações que o regime havia usado para atacar o consulado".

Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores do Irã, disse que Teerã também deu "aos nossos amigos" na região um aviso prévio de 72 horas de que o ataque seria lançado.

O chanceler afirmou que seu país enviou uma mensagem a Washington no domingo avisando que a "operação será limitada com o objetivo de legítima defesa e de punição a Israel" —sinalizando o desejo de evitar qualquer escalada com os EUA.

Iranianos nas redes sociais expressaram perspectivas diferentes, refletindo um país cada vez mais polarizado. Alguns defenderam o ataque, dizendo que ele havia revivido seu senso de orgulho nacional e punido Israel. Outros acreditavam que foi um erro levar o país para mais perto de uma guerra total, e estavam preocupados com a resposta esperada de Israel.

Apesar dos riscos de retaliação israelense contra a república islâmica, autoridades iranianas pareciam, pelo menos externamente, confiantes de que Israel não responderia diretamente contra o Irã, apostando que o jogo de Khamenei daria certo.

"Foi um ato de punição que agora acabou", disse Dastmalchian, o ex-embaixador. "Se eles [israelenses] cometerem outro erro, o Irã responderá em uma escala muito maior. Mas acreditamos que nem os americanos nem as outras partes têm interesse em ampliar o conflito."

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