12/06/2010 - 18h55

Performer da noite se transforma na "cover oficial" de Lady Gaga

VIVIAN WHITEMAN
DE SÃO PAULO

A performer e maquiadora Kika Ortiz, 26, é uma especialista em máscaras. Nasceu com uma de menino, que abandonou num passado remoto, junto com seu nome de batismo. Ainda adolescente, com pinceis, sombras e blush, começou a desenhar no próprio rosto novas identidades, mais adequadas aos planos que maquinava na cabeça.

O primeiro rosto a ganhar lugar de destaque em sua galeria pessoal foi o da drag queen Kika Kimberly, que agitava a pacata noite de Curitiba com suas imitações da diva black Vernessa Mitchell. "Eu trabalhava num laboratório de análises na época. Chegava às 3h em casa e às 7h estava colhendo sangue para exames. Gastava todo o salário em perucas e roupas", conta Kika.

Cabelos compridos, aneis delicados, batom rosinha e corpo esguio, Kika muda de expressão quando fala de sua grande epifania, do dia em que ela, tão acostumada a ludibriar o espelho, surtou ao dar de cara com seu duplo famoso na tela da TV.

"Eu estava em casa, vendo MTV, quando começou a passar o clipe de 'Poker Face', da Lady Gaga. Meu coração quase parou. Fiquei assustada e pensei, 'gente, essa sou eu'. O look era idêntico aos que eu usava como Kika Kimberly, o corpo era parecido, o penteado, tudo. Eu me senti representada por ela."

Alucinada, Kika resolveu: seria a cópia de sua cópia, seria o clone de sua versão celebridade, seria, enfim, cover da cantora Lady Gaga. Dias depois, ela se montou de "Poker Face" para ir a uma festa num clube paulistano. Chegando lá, virou o hit da noite e acabou fazendo um show improvisado. A performance virou notícia na noite de São Paulo e Kika ganhou espaço. Atualmente, é conhecida como a "cover oficial de Lady Gaga no Brasil" --sucesso nas festas de debutantes finas, em eventos de moda e, é claro, no circuito brasileiro de casas noturnas "gay friendly".

Com uma miniturnê fechada para Curitiba, Porto Alegre e Santa Catarina, Kika investe cada vez mais em seu show. Tem bailarinos, coreógrafo e um estilista próprio, o amigo e designer Edson Assnar. Ela mesma customiza os acessórios e arrasa na automaquiagem. O resultado é impressionante. "Pegamos as fotos dela e tentamos chegar ao resultado mais perfeito possível. Parte dos cachês e parte do que ganho como maquiadora vai direto para os figurinos, que mudam sempre", diz Kika.

A performer sonha em um dia encontrar Lady Gaga e, quem sabe, participar de um videoclipe da musa. "Ela é ousada, inspiradora e, quando a vejo, é como se eu estivesse lá. Parece bobagem, mas, para mim, existe alguma ligação divina entre a minha vida e a dela", conta Kika, enigmática.

Nessa história de identidades, o que separa o "eu" do "outro", afinal, parece não ser muito mais do que uma questão de ponto de vista.