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03/10/2010 - 02h34

Sinfônica Heliópolis parte para turnê na Europa; veja vídeo

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FLAVIA MANTOVANI
DE SÃO PAULO

Teve Beethoven e Villa-Lobos, mas também se ouviu samba e até Lady Gaga na última semana de ensaio da Sinfônica Heliópolis antes de sua primeira turnê internacional.

De jeans, tênis e mochilas penduradas nas cadeiras, 75 jovens, a maioria moradores daquele bairro na zona sul, executavam repetidamente o repertório que apresentarão a partir de amanhã na Europa.

O clima alternava a seriedade ao tocar com a descontração juvenil nos intervalos. Uma hora, alguém entoou na trompa "Bad Romance", da cantora pop Lady Gaga. Ao término do ensaio, todos treinaram, entre risadas, dancinhas e muito batuque, uma coreografia para chegar ao palco internacional ao som de samba. O maestro Edilson Ventureli, diretor-executivo do Instituto Baccarelli, onde surgiu a orquestra, tentava pôr ordem na bagunça: "É descontraído, mas não é zona não, gente!"

Veja Vídeo

É um grande salto para um projeto que começou com o ensino de instrumentos de cordas a 36 crianças, depois de o maestro Silvio Baccarelli ficar comovido com um incêndio na favela, em 1996. Os recursos eram do próprio maestro. Hoje, o instituto ocupa um terreno de 3.000 m2 e acaba de ampliar o número de beneficiados de 550 para mais de 1.000.

Para a maioria dos integrantes, é a primeira ida ao exterior, e logo para três países: Alemanha, Holanda e Inglaterra. Cerca de 80% da turma nunca nem viajou de avião. Por essa inexperiência, Ventureli quis chegar quatro dias antes. "Eles têm que olhar a cidade, se familiarizar com o fuso, baixar a adrenalina."

Um fator a mais de nervosismo será tocar em cidades como Bonn, terra de Beethoven. "Vamos tocar Beethoven para as pessoas que mais conhecem Beethoven no mundo. Imagina a responsabilidade", diz Ventureli. O repertório terá ainda Tchaikovsky, Villa-Lobos e uma composição do brasileiro André Mehmari feita especialmente para a turnê, "Cidade do Sol" (o significado de Heliópolis).

Patrocinam a turnê entidades europeias, Petrobras e Ministério da Cultura. A logística é complexa: são 90 pessoas viajando no mesmo avião e se deslocando pela Europa de ônibus. Elas ficarão hospedadas em hotéis, albergues e, em Bonn, em casas de família. "Vai ser um barato. Vários dos meninos não falam uma palavra de inglês, imagina de alemão", diz Ventureli.

Para superar essa barreira, muitos músicos se matricularam em cursos de inglês. Um grupo contratou um professor particular. "Focamos em conversação. Vai dar para se virar: com fome, com sede e perdido a gente não vai ficar", brinca a violinista Daniela Correia, 26, que está no projeto desde o início, em 1996.

Ela comprou maquiagem e casacos para viajar, assim como vários colegas. O instituto orientou até sobre como fazer a mala. "Estamos correndo muito, mas a ficha só vai cair quando entrarmos no avião."

A violinista Julliana Cavalcanti, 22, no projeto desde os 11, está ansiosa mesmo já tendo ido à Alemanha para um intercâmbio de músicos. "Olhar para trás e ver tudo o que está acontecendo hoje é uma vitória." Já sua irmã, a percussionista Maryana, 18, nunca saiu do país. "Vai ser totalmente diferente. Só espero que não dê turbulência no voo."

Para o contrabaixista André Rosalem, 19, que nunca viajou de avião, mais difícil do que voar pela primeira vez será enfrentar o público. "São pessoas que convivem com música clássica de criação."

A rotina dos músicos, cheia de ensaios, aulas e rígidas avaliações, ficou ainda mais corrida nas últimas semanas --teve até ensaio duplo no feriado. Ventureli diz que o segredo do reconhecimento da orquestra é o trabalho duro. "O resultado que a gente apresenta é fruto de muito empenho. Estamos ensaiando pra essa turnê desde fevereiro. Queremos que ela seja apenas a primeira."

Reforma prevê teatro e prédio anexo com camarins

O Instituto Baccarelli, que já tem uma sede de 2.800 m2 no bairro, está sendo ampliado: um prédio anexo com camarins, salas de ensaio e de aulas está em fase final de construção.

O projeto prevê ainda um teatro de 580 lugares, para o qual se busca patrocínio. Com ele, o complexo terá 6.000 m2.

A ideia é que o auditório sirva de palco não só para concertos eruditos mas para outras manifestações culturais, de Heliópolis ou não.

 

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