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Leia o essencial de Villa-Lobos para acompanhar a Osesp
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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo
Heitor Villa-Lobos realizou uma síntese entre vanguarda e fontes populares comparável à do grande mestre da etnomusicologia no século 20, o húngaro Béla Bartók. Assim como Bartók --que percorreu o leste europeu coletando material folclórico, para depois transformá-lo em peças de ousada arquitetura sonora--, Villa-Lobos empreendeu entre 1905 e 1912 uma viagem de prospecção dos ritmos e melodias populares disseminadas pelo interior do Brasil.
De volta ao Rio de Janeiro, onde nascera em 1887, passou a compor obras que traduzem essas pesquisas, como as séries pianísticas "A Prole do Bebê" nº 1 (1918) e nº 2 (1921), em que assimila influências do impressionismo de Ravel e Debussy a cantigas infantis brasileiras.
Porém, diferentemente de um romântico como Carlos Gomes (que introduziu a temática brasileira --índios, escravos-- em óperas que seguiam o modelo consagrado por Giuseppe Verdi), Villa-Lobos se apropriou do gesto das vanguardas europeias de criar novos padrões de composição. Nesse sentido, não foi um epígono ou discípulo, mas um interlocutor dessas vanguardas, incorporando elementos como o politonalismo e os acordes dissonantes a ritmos e melodias tiradas exclusivamente de nosso cancioneiro popular --e reinventadas de forma tão particular que já não podem mais ser associadas a essa ou aquela fonte musical: são obras de Heitor Villa-Lobos, com sua dicção inconfundível, facilmente identificada após uns poucos acordes.
Os dois conjuntos fundamentais de peças compostas por Villa são os 14 "Choros" (incluindo "Choros Bis" e "Introdução aos Choros") e as nove "Bachianas Brasileiras" --ambas compostas para diferentes formações orquestrais com solista. Se em "Choros nº 10" (note-se que Villa denominava cada choro no plural, talvez denotando a multiplicidade de referências contidas em cada um) temos um coro de expressões indígenas sobreposto a "Rasga o Coração" (xote de Anacleto Medeiros com versos de Catulo da Paixão Cearense), numa apoteose agressiva, as "Bachianas" são consideradas neoclássicas, em sua articulação da arte do contraponto de Bach com as serestas brasileiras.
Se as sinfonias correspondem a uma faceta menos conhecida de sua produção (lacuna que se pode atribuir à dificuldade de estabelecer versões definitivas das partituras), Villa-Lobos deixou peças antológicas para orquestra e instrumento solo, como o "Concerto para Violoncelo" e o "Concerto para Violão" --não por acaso, os dois instrumentos que dominava (na juventude, ele havia sido um "chorão", o que explica não apenas seu apego ao choro, mas também a introdução do violão no ambiente sinfônico).
E se suas peças para piano estão ligadas ao cancioneiro, uma obra como o "Rudepoema" traz todas as asperezas e complexidades harmônicas que desde sua morte, em 1959, eternizaram Villa-Lobos não apenas como maior compositor brasileiro (o que é produto do gênio individual), mas sobretudo como aquele que realizou, na música, o projeto modernista de renovar a linguagem artística lançando mão de raízes culturais profundas, que já não podem mais ser consideradas "nacionais".
Divulgação | ||
O maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o mais importante compositor brasileiro de música erudita |
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