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"Nada é mais punk que Adoniran", diz músico Kiko Dinucci; ouça
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MARIA LUÍSA BARSANELLI
DE SÃO PAULO
São ciclos de obsessão que permeiam a vida do músico Kiko Dinucci, 33. Desde criança, ele investiga com afinco assuntos pelos quais se interessa, como música, cinema e arte.
Criado em Guarulhos, na Grande São Paulo, o compositor e violonista compila, em suas criações, influências de punk, rock, erudito, ritmos afro-brasileiros e MPB. "Misturo tudo. Tem que ter uma sujeira. Tudo o que eu faço é meio punk", define.
Christian von Ameln/Folhapress | ||
Músico Kiko Dinucci em frente a cartaz do filme "Bye Bye, Brasil", feito pelo taiwanês Ling Hu Cheng |
Kiko tem cinco álbuns lançados --o mais recente, "Metá Metá" (2011), está disponível para download no site www.kikodinucci.com.br.
Artista multimídia, já fez um documentário e agora explora as xilogravuras, tema de uma oficina que irá ministrar em julho, no Sesc Pompeia (zona oeste de São Paulo).
Também chegou a acreditar que sua paixão por cinema o levaria a ser diretor. Em 2006, idealizou e dirigiu o documentário "Dança das Cabaças Exu no Brasil", realizado com uma equipe amadora e um orçamento de R$ 19 mil (o filme pode ser visto no site www.vimeo.com/1436330).
sãopaulo - Em suas músicas, você mescla diversos ritmos. Há algum local da cidade em que esses sons se misturam?
Kiko Dinucci - A cidade tem uma onda de poluição sonora grande. Se você andar na rua 25 de Março, por exemplo, vai ouvir um mix em alto volume: músicas de lojas, camelôs, artistas de rua, tudo se mistura.
Você já foi chamado de "Baden Powell do punk". Que clássicos da cidade você considera punk?
Ah, Adoniran [Barbosa]. A voz dele é punk. Os compositores mais famosos de São Paulo, Adoniran e Paulo Vanzolini, não são músicos, eles têm uma postura antimusical. Adoniran fazia show e cantava fora do ritmo. Vanzolini não sabe cantar, não sabe tocar nem uma caixinha de fósforo. É uma postura muito antimusical. Nada mais punk do que isso.
Seu próximo álbum ("Cortes Curtos") é composto por canções com 140 caracteres, como no Twitter. Como ele nasceu?
Ele é inspirado nas vinhetas de Itamar Assumpção. Todos os discos de Itamar têm vinhetas que atravessam o disco. E caiu a ficha de que quase todos os discos que eu gravei têm vinhetas. Não é um negócio novo. O que pode ser novo é uma característica de narrativa muito forte, mais do que poética. Por exemplo, tenho uma que fala: "Naquele momento, os dois se olharam. Ele pensou em sexo, ela pensou que seria assaltada". Acabou, você resume uma cena urbana.
Confira podcast em que Kiko comenta seu novo álbum:
Em "Samuel", você fala das distâncias entre a periferia e o centro da cidade. Como vê essas diferenças?
Qualquer periferia tem pessoas do bairro que nunca foram ao centro. Às vezes, uma pessoa trabalha perto e faz tudo lá. Eu tive sorte, porque, na minha infância, meu pai veio morar na região central e eu tinha essa ponte. Mas tem um muro, e as pessoas acreditam fielmente nele.
Você admira muito o trabalho do taiwanês Ling Hu Cheng, que fazia cartazes pintados à mão das extintas fachadas de cinema do Centro. Quando começou a gostar dessas obras?
Em 1985, meus pais se separaram e, nos fins de semana, eu e minha irmã íamos com meu pai a cinemas do centro. lembro que tinha um McDonald's na av. Ipiranga, na frente do Marabá. Eu vi um cartaz de "Comando para Matar", com Schwarzenegger. Lembro de pegar um guardanapo e uma caneca e desenhar o cartaz. Eu não fui a museu quando criança, descobri o que era arte com esse cara. Eu chegava em casa e, com o fundo de madeira da cama começava a desenhar as fachadas do cinema. Eu comprava o jornal, recortava os layouts dos filmes, colava e pintava com giz de cera. Era uma obsessão tão grande que eu acompanhava no relógio e mudava as seções nos horários em que elas aconteciam.
Ouça comentário do músico sobre os cartazes das antigas fachadas de cinema do centro:
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