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A Amazônia em perigo

Proteger nosso futuro e o das demais espécies deveria ser uma de nossas prioridades

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David Castells-Quintana
Latino América 21

Durante as últimas semanas, vieram à luz dados que deveriam ser mais que preocupantes para todos os latino-americanos. O fato é que relatórios recentes mostram a rapidez com que estamos arrasando um de nossos tesouros mais valiosos, a selva amazônica.

De acordo com dados obtidos por satélites do projeto MAAP, da organização Amazon Conservation, nos últimos 17 anos mais de 4,2 milhões de hectares foram desflorestados na região amazônica (sem incluir a Bolívia), e os últimos anos foram particularmente duros.

Isso demonstra que os países "amazônicos" (Brasil, Peru, Equador, Bolívia, Colômbia, Venezuela e as Guianas) estão longe de cumprir seus compromissos de desacelerar o desflorestamento, como aponta o relatório da iniciativa The Dialogue, “Nearing the Tipping Point: Drivers of Deforestation in the Amazon Region”.

O desflorestamento da Amazônia, o famoso "pulmão" do planeta, a maior selva tropical chuvosa do mundo, é explicado, como seria de esperar, pelo crescimento demográfico e econômico que requer cada vez mais recursos naturais. 

A agricultura, especialmente a de uso extenso de terras, que infelizmente é aquela que caracteriza nosso continente, é a principal responsável por que a Amazônia encolha sem parar. Por trás do acelerado desflorestamento de nossa maior e mais preciosa selva nos últimos anos também se encontram fatores da conjuntura sociopolitíca de nosso continente.

De acordo com o artigo “How to Save the Amazon Rain Forest”, publicado pelo The New York Times, um exemplo de desastre é a Colômbia, onde diversas regiões mostram os mais elevados níveis de desflorestamento recente.

De acordo com os dados obtidos por satélites, o desflorestamento no país triplicou desde 2015 e se concentra em zonas que até pouco tempo atrás estavam em mãos dos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Com a "libertação" de tais zonas, a agricultura e a extração madeireira ilegal dispararam, o que representa uma consequência negativa do processo de paz no país com a segunda maior biodiversidade do planeta.

O Brasil é o país de maior diversidade, exatamente por conta de sua área amazônica mais extensa. Infelizmente, com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, a proteção ao meio ambiente caiu ao segundo plano, e o país parece desprezar o seu maior ativo.

Diante dos alarmes recentes quanto ao desflorestamento, o presidente nacional-populista recorreu, exatamente como Donald Trump, à negação e a acusações de falsidade, uma das estratégias mais poderosas de nossa era.

A realidade é que o acelerado desflorestamento do Amazonas é uma catástrofe em todos os aspectos. Como aponta o relatório previamente mencionado, a destruição da selva chuvosa não é linear.

Para gerar quase metade de sua própria umidade, a selva amazônica requer um tamanho mínimo. Mas o desaparecimento das matas está chegando a um ponto de inflexão a partir do qual a selva poderia começar a entrar em colapso por falta de capacidade para manter sua umidade.

Dessa maneira, pelo menos 30 milhões de pessoas, de mais de 400 etnias, com línguas e culturas próprias, e com contato escasso ou nulo com o resto da civilização, seriam colocadas em perigo, condenando essas culturas ao esquecimento.

 

Além disso, a destruição desse ecossistema, onde habitam pelo menos 10% das espécies animais e vegetais conhecidas na Terra (uma proporção que de acordo com diversos especialista poderia de fato chegar a 30%), está colocando em perigo um grande numero de espécies.

O problema é de tamanha magnitude que, de acordo com alguns especialistas, elevamos a taxa de extinção de espécies aos níveis mais altos registrados na história do planeta. Assim, estamos vivendo atualmente a sexta extinção maciça, com altas probabilidades de piora. 

E como se a situação já não fosse suficientemente grave, com o desflorestamento das selvas tropicais (desflorestamento que contribui com até 25% das emissões de gases causadores do efeito estufa), estamos também reduzindo nossas oportunidades já escassas de enfrentar o aquecimento global, a maior (e se nada fizermos talvez a última) ameaça que encaramos como humanidade.

O que fica claro é que nossas decisões, como consumidores e como eleitores, têm mais repercussão do que acreditamos. Proteger nosso futuro e o das demais espécies deveria ser uma de nossas prioridades, e argumento suficiente para que redefinamos o futuro político da nossa região.

David Castells-Quintana é professor de economia na Universidade Autônoma de Barcelona, especializado em economia internacional, economia urbana e desenvolvimento econômico. Publicou recentemente "¿Qué Planeta Heredarán Nuestros Nietos?" [que planeta herdarão nossos netos].

Latinoamerca21, um projeto plural que difunde diferentes visões sobre a América Latina.

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Latinoamerica 21, tradução de Paulo Migliacci

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