Brasil é o país com maior potencial de regeneração de florestas tropicais

Mata atlântica é a principal área a ser regenerada, mostra estudo publicado na Science Advances

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São Paulo

O Brasil é o país que tem a maior oportunidade para restauração de florestas tropicais no mundo, segundo análise publicada nesta quarta (3) na revista Science Advances. A chance de restaurar mata —e, assim, ajudar no combate às mudanças climáticas— se concentra na mata atlântica.

A equipe internacional de especialistas em florestas tropicais usou bases dados já disponíveis para criar um mapa-múndi de oportunidades de restauração. Para isso, levaram em conta pontos como locais com vegetação nativa por perto, capacidades de mitigação de mudanças climáticas e persistência ou não de desmatamento na área.

Também analisaram o custo de oportunidade, ou seja, se concentraram em áreas em que a pressão econômica é menor. “Eu não vou restaurar onde os produtores ganham muito dinheiro, como ocorre com a soja no cerrado. Eles não vão deixar o negócio deles para isso”, diz Renato Crouzeilles, pesquisador do Instituto Internacional para Sustentabilidade e um dos autores do estudo.

O desmatamento foi outro ponto a ser levado em conta na análise da viabilidade da regeneração.

No ranking dos países que unem maiores níveis de biodiversidade (hotspots) e de possibilidade de restauração, o Brasil lidera seguido por Indonésia, Índia, Madagascar e Colômbia. 

Segundo o pesquisador, a restauração do bioma pode ser uma nova oportunidade de investimentos externos no Brasil. A ONU declarou o período entre 2021 e 2030 como a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas. 

Em 2011, a Alemanha —um dos doadores do Fundo Amazônia— e a União Internacional para Conservação da Natureza lançaram o Desafio de Bonn, que tem a intenção de restaurar 150 milhões de hectares de florestas até 2020 e 350 milhões até 2030. 

A estimativa é que a recuperação das áreas até 2030 possa gerar cerca de US$ 170 bilhões de dólares (R$ 646 bilhões) por ano, levando em conta proteção de águas, aumento de colheitas e produtos florestais. Além disso, tal regeneração tem potencial de sequestrar 1,7 gigatoneladas de carbono da atmosfera, provocando impactos positivas na luta contra as mudanças climáticas.

O Brasil aderiu, em 2016, ao Desafio de Bonn e se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030. 

E a Amazônia não entra nessa conta?

O problema da floresta amazônica é que o desmatamento nela ainda é crescente —os últimos dados consolidados oficiais, referentes ao período de 2017 a 2018, mostram a maior taxa de desmate da década. Ou seja, trata-se de local com grande interesse econômico associado, o que poderia aumentar o custo de regeneração.

Enquanto isso, a mata atlântica já passou por um histórico e elevado processo de desmatamento. Atualmente, porém, a floresta, que fica bem próxima dos principais centros econômicos e populacionais do país, atingiu o menor nível de destruição desde o início dos registros.

“A mata atlântica hoje tem extensas áreas de pecuária extremamente improdutivas. Então a oportunidade da restauração começar ali é maior do que na Amazônia”, diz Crouzeilles.
 

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