Trump oferece ajuda para conter queimadas no Brasil, e país costura também apoio israelense

Sob pressão europeia, governo busca aliados e reforça discurso de fatalidade

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Brasília e Washington

​​​Pressionado por governos europeus por causa das queimadas na Amazônia, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) mantém conversas com os EUA e Israel sobre a possibilidade de os dois países aliados auxiliarem no combate aos incêndios na região Amazônia. 

No início da noite desta sexta (23), o presidente dos EUA, Donald Trump, telefonou a Bolsonaro, escreveu em suas redes sociais sobre o tema —sua primeira manifestação a esse respeito —e ofereceu ajuda para combater os focos de queimada.

"Acabei de falar com o presidente Jair Bolsonaro (...) Disse que se os EUA puderem ajudar com os incêndios na Floresta Amazônica, estamos prontos para dar assistência", escreveu, afirmando ainda que os prospectos para a relação comercial entre os dois países são "muito animadores".

O tuíte de Trump é um claro contraponto às críticas do presidente da França, Emmanuel Macron, que foi às redes sociais falar que as queimadas são uma "crise global" e convocar uma reunião de emergência a respeito da Amazônia na cúpula do G7 neste fim de semana, à qual Trump estará presente. A menção a comércio também faz parte da resposta, já que Macron ameaça barrar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Mais tarde, em cadeia nacional de televisão, o próprio Bolsonaro afirmou que havia países que, além de oferecerem ajuda, se prontificaram a “levar a posição brasileira junto ao G7” —alusão óbvia aos Estados Unidos de Trump, único dos sete integrantes até agora a manifestar apoio ao Brasil.

De acordo com relatos feitos à Folha, estudos estão sendo feitos para definir qual poderia ser a atuação de EUA e Israel no combate ao fogo. Israelenses e americanos, por sua vez, estão dedicados a entender qual o tamanho do problema enfrentado pelo Brasil e se eles teriam condições de enviar tecnologia e pessoal para a região amazônica.

Um apoio dos dois países na contenção das queimadas ainda é visto como uma possibilidade, mas seria um gesto importante para tentar mostrar que o país não está isolado internacionalmente na questão amazônica. 

Em tom semelhante ao adotado por Bolsonaro na véspera, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Ramos, escreveu em redes sociais nesta sexta-feira (23) que o Brasil não precisa de discursos e defendeu ajuda prática, citando Israel como exemplo.

"A Amazônia brasileira é de responsabilidade do Brasil e do seu povo!! Não precisamos de discursos, de cunho intervencionista e sim de atitudes práticas de países que querem ajudar!! O recente exemplo de Israel em Brumadinho, diz muito mais do que palavras sem efeito prático!!", escreveu.

O governo Bolsonaro tem afirmado que não precisa do dinheiro de países como Alemanha e Noruega, que recentemente suspenderam repasses de verbas para o Brasil pelo aumento do desmatamento.  

Na semana passada, o presidente sugeriu que a Noruega envie para o reflorestamento da Alemanha o montante que não será mais enviado para o Fundo Amazônia.

O país nórdico anunciou suspensão do repasse de cerca de R$ 133 milhões. Segundo ele, o Brasil está quebrando o acordo para redução do desmatamento.

A Noruega seguiu a decisão da Alemanha que, no sábado (10), também informou que suspenderá parte do financiamento de proteção ambiental para o Brasil. No mesmo tom adotado contra a Noruega, Bolsonaro sugeriu que a Alemanha refloreste seu próprio país. Pelo aumento no desmatamento, a Alemanha anunciou ainda que vai suspender mais de R$ 150 milhões.

As discussões sobre possível ajuda de Israel e EUA ocorrem num momento em que os europeus, liderados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, pretendem levar o debate sobre preservação da Amazônia à reunião do G7, fórum do qual o Brasil não faz parte

O engajamento americano e israelense no combate às queimadas e no monitoramento de áreas de risco, bem como dos vizinhos, fortaleceria o discurso do Planalto de que os incêndios são mais um fenômeno natural recorrente nesta época do ano do que efeito de uma política ambiental negligente do governo Bolsonaro. 

Em publicação feita pelas redes sociais na quinta-feira (22), Macron disse que os incêndios configuram uma crise internacional. O discurso dele foi endossado por líderes como a premiê alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

Nesta sexta, houve um escalonamento da crise após declaração do governo francês de que o país poderia não endossar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul devido à falta de ação do Brasil sobre os incêndios. 

A Irlanda também afirmou que vai bloquear a implantação do pacto caso o governo brasileiro não atue para combater os incêndios em curso na Amazônia.

Na Finlândia, o ministro da Economia, Mika Lintila, sugeriu que a União Europeia considerasse urgentemente a possibilidade de banir importações de carne bovina do Brasil.

O primeiro-ministro do país, Antti Rinne, foi mais evasivo: “Temos de descobrir se os europeus têm algo a oferecer ao Brasil para ajudar a prevenir outros incêndios assim.”

O governo do Reino Unido declarou-se na sexta “profundamente preocupado” com o aumento das queimadas e com o “impacto da perda trágica destes habitats preciosos”, nas palavras de uma porta-voz.

Bolsonaro está reunido na tarde desta sexta, no Palácio do Planalto, com representantes de cinco ministérios: Defesa, Relações Exteriores, Meio Ambiente, Secretaria-Geral da Presidência e Casa Civil.

O governo deve anunciar medidas até o fim do dia como a assinatura de uma GLO (Garantida da Lei e da Ordem), que autoriza a atuação das Forças Armadas no combate ao incêndio.

Efetivo da Força Nacional, vinculada ao Ministério da Justiça, também deve ser acionado. 

Deverá haver ainda a liberação de recursos para auxiliar no trabalho. A quantidade está em negociação com o Ministério da Economia.

De acordo com auxiliares presidenciais, os militares devem dar apoio logístico a uma atuação que será feita conjuntamente entre o governo federal e os governos dos estados envolvidos.

O governo estuda dar uma resposta por meio de uma operação que deve ser conduzida neste sábado (24), após a publicação da GLO.

Na quinta, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, telefonou para governadores de seis estados para discutir ações integradas: Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima. 

O governo transmitiu a imagem de que o combate às queimadas estão acima das divergências ideológicas do Planalto com outras lideranças. 

Bolsonaro fez um pronunciamento à nação na noite desta sexta com a apresentação de números para baixar a temperatura. Ele reforçou que é um tema nacional e que a situação não está fora de controle. 

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