Nos EUA, Ernesto diz que satélite não diferencia 'fogueira de acampamento' de incêndio

Em reunião com investidores e empresários, ministro contestou dados da Nasa e disse que queimadas estão na média

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Washington

Durante reunião fechada com investidores e empresários americanos, nesta quinta-feira (12) em Washington, o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) criticou os dados divulgados sobre o aumento das queimadas na Amazônia e fez críticas a levantamentos baseados em satélites que, segundo ele, não diferenciam "fogueiras de acampamento" de "grandes incêndios."

Em uma palestra na Câmara de Comércio dos EUA, Ernesto distribuiu papéis produzidos pela embaixada do Brasil em Washington com dados para respaldar seu discurso de que as queimadas na floresta estão na média dos índices registrados nos últimos 15 anos.

O chanceler encerrou seu discurso sobre a relação entre Brasil e EUA com a mensagem de que os incêndios que atingem a Amazônia —com repercussão internacional— não são de grande proporção nem fruto de uma política ambiental negligente do governo Jair Bolsonaro.

Segundo relatos de participantes do encontro, Ernesto disse que as queimadas tinham maior alcance em outros anos, mas que a imprensa estrangeira não queria criticar o governo da época —em referência às gestões do PT.

No entanto, dados do próprio governo brasileiro apontam que os focos de queimadas cresceram 82% em relação ao ano passado. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento vem avançando em relação a anos anteriores. Os meses de junho, julho e agosto, respectivamente, apresentaram aumento de 90%, 278% e 222% no desmate em comparação aos mesmos meses de 2018.

Além disso, os satélites que fazem o monitoramento de queimadas só identificam incêndios maiores do que 30 metros, sendo impossível a detecção de fogueiras menores do que isso ou queimadas que afetem somente o chão de matas fechadas.

Em meio à crescente destruição, o governo brasileiro passou a contestar, sem provas, os dados do Inpe, e o diretor do instituto, Ricardo Galvão, acabou demitido. 

A Nasa, agência espacial americana, por sua vez, reportou que 2019 foi o pior ano de incêndios na floresta desde 2010, com "perceptível aumento de focos de queimadas grandes, intensas e persistentes ao longo das principais rodovias do centro da Amazônia do Brasil."

O monitoramento da Nasa é feito justamente por satélites que, segundo especialistas, são os primeiros a detectar queimadas em áreas remotas.

Os incêndios variam de acordo com circunstâncias econômicas e climáticas, mas o governo Bolsonaro tem aplicado medidas que reduziram a fiscalização e afrouxaram leis ambientais.

O discurso de Ernesto aos investidores nesta quinta foi avaliado como mais objetivo do que o feito pelo chanceler um dia antes, em um dos think tanks conservadores dos EUA.

Na Heritage Foundation, Ernesto também falou de Amazônia, mas fez um discurso ideológico no qual criticou o que chama de "climatismo", colocou mais uma vez em dúvida o aquecimento global e disse que líderes de diversos países fazem uso do alarmismo sobre mudanças climáticas para atingir objetivos políticos —inclusive usando a discussão como pretexto para a ditadura.

A ideia de que preocupações internacionais com a floresta ferem a soberania brasileira —ecoada por Ernesto e pelo Planalto— deve ser usada como base do discurso de Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da ONU, na terça-feira (24), em Nova York.

A avaliação dos presentes no encontro na Câmara de Comércio foi a de que Ernesto quis endereçar sua mensagem final sobre o tema da Amazônia também porque o assunto tem preocupado investidores ligados ao setor de meio ambiente. 

Empresas americanas e europeias, por exemplo, anunciaram suspensão da compra de couro e soja do Brasil por conta da ligação das queimadas com o agronegócio.

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