Mudanças climáticas podem aumentar queimadas no sul da Amazônia

Em agosto de 2019, Brasil teve maior número de focos de incêndio desde 2010

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São Paulo

As mudanças climáticas devem intensificar os incêndios no sul da Amazônia, região do arco do desmatamento, o que fará crescer a área queimada e consumir até 16% do bioma na região até 2050. Além disso, mais queimadas significam mais emissões brasileiras de gases do efeito estufa. 

Os cenários para o fogo na Amazônia nas próximas décadas foram simulados em pesquisa publicada, nesta sexta (10), na revista Science Advances. O trabalho, liderado pelo pesquisador Paulo Brando, da Universidade da Califórnia, em Irvine, e do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), teve participação de cientistas brasileiros e americanos.

Os pesquisadores levaram em conta cenários mais otimistas (com menores emissões, próximas ao Acordo de Paris) e mais pessimistas (sem redução das emissões). Em ambos os casos, intensifica-se o fogo na Amazônia. Isso acontece porque a umidade do interior da floresta, que naturalmente impede o surgimento natural do fogo e o avanço de incêndios, diminui conforme o clima local fica mais seco. 

Na floresta amazônica, o fogo está fortemente relacionado ao processo de desmatamento, no qual os desmatadores queimam, durante o período seco, a mata derrubada. 

Em agosto de 2019, o Brasil teve 91.891 pontos de fogo —mais de 50% deles na Amazônia—, o maior número de focos de queimadas para o mês desde 2010. Os incêndios na floresta amazônica estavam concentrados em propriedades privadas.

Mesmo para cenário em que o desmatamento deixa de acontecer, os incêndios devem aumentar, segundo a pesquisa. Ainda que o desmate volte a patamares menores, de cerca de 3.000 km² por ano (entre agosto de 2018 e julho de 2019 a destruição alcançou 9.762 km²), a floresta mais seca devido às mudanças do clima deve intensificar as queimadas ligadas ao desmatamento.

Com esse possível desmatamento menor, até mesmo áreas onde a destruição é menor, Unidades de Conservação e terras indígenas sofreriam mais com as queimadas.

Segundo os pesquisadores, controlar o desmatamento se torna central para reduzir o fogo e as emissões derivadas dele. No pior cenário possível (sem redução de emissões), sem desmate, as áreas queimadas são reduzidas em mais de 30% e as emissões de gases-estufa em 56%.

A atividade agropecuária no Brasil responde pela maior fatia (69% em 2018) dos gases de efeito estufa liberados pelo país. Na conta da atividade também entra o desmatamento.

Por fim, os pesquisadores afirmam que seus cálculos provavelmente subestimam a área queimada e as emissões relacionadas a queimadas no futuro.

Nos últimos meses, a Austrália enfrenta incêndios catastróficos, que levaram a mortes e evacuações. A situação atual australiana, segundo cientistas, tem fortes relações com as mudanças climáticas

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