Atingido por incêndio, Parque Juquery é último fragmento de cerrado na Grande SP

Local também está em uma região de manaciais; fogo pode afetar faua e flora da região

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São Paulo

O Parque Estadual do Juquery, que queima desde domingo (22), é a última fatia do bioma cerrado na região metropolitana de São Paulo, além de estar em uma área de mananciais do sistema Cantareira. O fogo que atingiu o parque foi tão intenso que a fuligem chegou até áreas centrais da capital paulista.

Segundo informações do Corpo de Bombeiros, o combate ao incêndio continua na região.

A área de proteção integral foi criada em 1993, por decreto do então governador Luiz Antonio Fleury Filho, em porções dos municípios de Caieira e de Franco da Rocha. Segundo o governo do estado, o parque tem 2.000 hectares. Além do cerrado, há também fragmentos de mata atlântica no local.

Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil, afirma que há outras unidades de conservação de cerrado pequenas no interior do estado, mas só. "É quase um testemunho do que era o cerrado aqui mais próximo da capital", afirma ela.

Além disso, trata-se de local de mata protegida, algo caro para São Paulo. "Qualquer palmo de área verde tem uma importância vital", diz Mario Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica, que também destaca que o entorno da região é cheio de mananciais.

Outra preocupação dos especialistas é saber como as chamas vão afetar a fauna e a flora da região. De acordo com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, nas áreas do parque já foram observados cachorros-do-mato, veados-campeiros e jaguatiricas, além de espécies de plantas como frutas-do-lobo, angicos, copaíbas e cambarás.

A vegetação e os animais do cerrado costumam estar mais adaptados para sobreviverem a queimadas, na comparação com os de outros biomas. Mas essa regra é válida, principalmente, no caso de incêndios naturais —que, tudo indica, não é o que está acontecendo no Parque do Juquery

Napolitano aponta que, normalmente, os focos de incêndio naturais ocorrem no começo da estação chuvosa, por queda de raios, por exemplo. Nesses casos, as chuvas funcionam como um limitador. "Ocorre um mosaico de pequenas áreas queimadas, com baixa intensidade de fogo", diz a especialista do WWF-Brasil.

Já o fogo que atinge atualmente o parque —e que já consumiu mais de 50% de sua área— acontece em um momento de estiagem. Além disso, a suspeita é que o incêndio tenha como origem um balão e, não, causas naturais.

O parque é uma espécie de ilha de cerrado, cercada por cidades e por outras vegetações. Isso tanto aumenta a dificuldade de recuperação da flora quanto vira um empecilho para a fuga dos animais —a área protegida tem, por exemplo, vias de trânsito de veículos ao redor.

"É uma região que tem alguma conexão com outros parques, mas a área é extremamente fragmentada", diz Mantovani.

Segundo Napolitano, um dos riscos após queimadas como a atual em uma área distante de outras porções de cerrado é a introdução de espécies exóticas, ou seja, que não são naturais do bioma.

A especialista do WWF-Brasil aponta como exemplo o capim de pastagem. "Ele é muito forte e acaba tomando lugar da vegetação natural. Você tem que acompanhar a recuperação da vegetação dos campos."

Por fim, tanto Mantovani quanto Napolitano destacam o impacto da fumaça de queimadas como essa na saúde humana, principalmente em problemas respiratórios, ainda mais em um momento em que a Covid continua sendo um problema no país.

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