Descrição de chapéu
Governo Bolsonaro desmatamento

Bolsonaro faz o exato oposto do que é necessário contra a mudança climática

O mundo inteiro sabe qual é a política do governo para o ambiente: destruir, mandar destruir e deixar destruir

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São Paulo

Um grande incêndio começou sábado (7) perto de Poconé (MT), em região do Pantanal já castigada pelas chamas em 2020. Cerca de mil hectares (10 km2) queimaram em dois dias. Tormentas de fogo engolem florestas, estradas, imóveis e ilhas inteiras na Califórnia, na Turquia, na Grécia, na Sibéria.

Na Alemanha, há poucas semanas as águas subiram em enchentes nunca vistas. Cenas inéditas de Terceiro Mundo no coração da Europa. Na China, até túneis de metrô se inundaram, passageiros com água pelo peito presos dentro de trens.

Não é por falta de fotografias chocantes nem de previsões científicas que o público ainda reage com apatia diante da emergência climática, mas por culpa de governos inertes diante do desastre em câmera lenta. Poucas administrações simbolizam tão bem a omissão quanto a de Jair Bolsonaro.

Cinco relatórios do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) já vinham chamando governantes à ação, desde 1990, em tons crescentes de alarme. Sai agora a primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação (AR6, na sigla em inglês), sem garantia de que as previsões confirmadas e a escalada retórica consigam sacudi-los da inércia.

A prova dos noves virá em novembro, com a reunião COP-26 (a 26ª cúpula sobre clima!) em Glasgow. É rala a expectativa de que delegados alcancem consenso que permita chegar mais perto de manter no nível menos ameaçador de 1,5ºC o aquecimento atmosférico, meta do Acordo de Paris (2015).

No resumo da ciência do clima compilado por 234 pesquisadores de 65 países, atribui-se à influência de atividades humanas 1,07ºC de 1,09ºC do aquecimento da atmosfera já medido desde o início do século 20. No pior cenário, mais 4-5ºC estão por vir, com impacto catastrófico sobre a meteorologia como a conhecemos.

Dois mapa-múndi em tons de vermelho
Infográfico feito pelo IPCC mostra o aumento das temperaturas médias (à esquerda) e das temperaturas extremas (à direita) com o aquecimento global - IPCC
Dois mapa-múndi em tons de verde e amarelo
Infográfico feito pelo IPCC mostra a alteração média (à esquerda) e extrema (à direita) dos níveis de precipitação com o aquecimento global - IPCC

O nível do mar já subiu 20 cm e pode chegar a 1 m até o fim do século 21. Chuvas torrenciais que só aconteciam uma vez por século agora vêm todos os anos. Repetem-se secas como a que se abate sobre o Brasil, a maior em nove décadas.

Tempestades poderosas, com enormes volumes concentrados em poucos dias, deverão pôr de joelhos Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, alerta o IPCC; Amazônia e Nordeste viverão estiagens prolongadas. A precipitação anual poderá diminuir no Norte, favorecendo desmatamentos, queimadas e o temido processo irreversível de colapso da floresta (“dieback”).

Não bastasse o impacto da mudança climática global, o Brasil caminha para trás ao permitir o recrudescimento do desmate sob Bolsonaro. O mau militar, na definição de Ernesto Geisel, engajou Forças Armadas ineptas no combate à devastação, torrando milhões em operações-cloroquina que fazem grileiros sorrirem.

O sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que o presidente tentou manietar, indica que os 12 meses encerrados em julho registraram o segundo maior desmatamento na Amazônia desde 2015 (8.712 km2). O período perde só para 2019-20, com 9.216 km2 derrubados no primeiro ciclo completo com Bolsonaro.

Sob o desgoverno, uma maioria oportunista do Congresso vai passando a boiada predatória, mesmo sem o famigerado Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente (MMA). Projeto de lei da grilagem, obstáculos à demarcação de terras indígenas, regularização de unidades de conservação invadidas –a bancada do boi faz de tudo para seguir açambarcando terras públicas.

O resultado conhecido da marcha usurpadora é mais devastação. E aumento das emissões de carbono, claro, pois a floresta derrubada e incendiada constitui a maior fonte de gases do efeito estufa lançados pelo Brasil, em especial se computada a poluição climática da pecuária que tanto se beneficia com o desmatamento.

Não é só o agronegócio que pagará caro pela desídia, na forma de chuvas e secas irregulares, imprevisíveis. A julgar pelo AR6, é provável que já esteja pagando –assim como os demais brasileiros, começando pela conta de luz e pelo preço dos alimentos em disparada na escassez de recursos hídricos renovados pela vegetação natural.

O mundo inteiro sabe qual é a política de Bolsonaro para o ambiente: destruir, mandar destruir, deixar destruir. O mesmo que deseja para índios, quilombolas, democracia, eleições, LGBTQIA+, igualdade de gênero.

Nem mesmo Joe Biden, interessado em mantê-lo na esfera de influência americana para fustigar a China, terá a cara de pau de aceitar suas patranhas no setor pelo valor de face.

Além de sacrificar Salles, tudo que Bolsonaro tentou até aqui foi dar um golpe (este, publicitário) antecipando em dez anos a neutralização das emissões nacionais de carbono, de 2060 para 2050. Não é que nada faça ou pretenda fazer para traçar uma rota sobre como chegar lá –faz exatamente o oposto, trabalha dia e noite por garimpeiros, madeireiros, grileiros e cúmplices fazendeiros.

Com esse naipe de atitudes, Bolsonaro e seu governo não farão apenas papel de palhaços e párias em Glasgow, como aliás já fez o presidente na ONU, em 2020; já fazem e continuarão fazendo contribuição substancial para desgraçar o clima do planeta, a floresta amazônica e o agronegócio que o toma por mito.​

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