Descrição de chapéu mudança climática

Um bilhão de crianças vivem sob risco climático extremamente alto, aponta Unicef

Nações sob maior risco são responsáveis por pequena fatia de emissões de gases-estufa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um bilhão de crianças, ou quase metade da população infantil do mundo, vive em 33 países sob risco extremamente elevado de sofrer com impactos da crise climática. Essas nações, ao mesmo tempo, são responsáveis por uma pequena parcela (só 10%) das emissões de gases-estufa no planeta.

O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançou, na noite desta quinta-feira (19), o mais abrangente relatório sobre o tema, no qual pela primeira vez apontou quantas crianças no mundo vivem em áreas com múltiplos e simultâneos riscos ambientais e climáticos. Com os dados, o fundo projetou um indicador, o Índice de Risco Climático Infantil.

A maior parte dos países classificados pelo índice com riscos extremamente altos estão na porção central do continente africano, em países como Niger, Sudão e República Democrática do Congo. Outros países que também estão nessa lista são Índia, Paquistão e Afeganistão —que acabou de testemunhar o retorno ao poder do grupo radical islâmico Talibã, na esteira da retirada das tropas americanas.

Crianças olham para rua inundada
Crianças em rua inundada no Reino Unido, em janeiro de 2021 - Lee Smith/Reuters

A situação sensível do Afeganistão não é exclusiva nessa lista. O relatório do Unicef aponta que 29 dos 33 países que lideram negativamente o índice têm contextos frágeis.

O indicador criado pelo órgão considera os riscos climáticos, como ondas de calor, enchentes, poluição do ar, do solo e da água, escassez de água e doenças transmitidas por vetores (como dengue e febre amarela, por exemplo). Entram também na conta do índice informações associados à realidade sociopolítica, como dados de educação, saúde e pobreza.

Segundo o documento, a falta de acesso a serviços essenciais reduz a capacidade de adaptabilidade das crianças, o que, consequentemente, aumenta a vulnerabilidade à crise climática.

É um ciclo vicioso, aponta o relatório. “Empurra as crianças mais vulneráveis ainda mais profundamente para a pobreza ao mesmo tempo em que aumenta o risco de passar pelos piores e mais ameaçadores efeitos da crise climática”, afirma o documento.

De acordo com o relatório, 820 milhões de crianças estão altamente expostas a ondas de calor, o que deve piorar conforme aumenta a temperatura média global. Cerca de 1 a cada 6 crianças (ou 400 milhões) estão em locais altamente suscetíveis a ciclones. Tempestades de grande intensidade também tendem a piorar com a elevação da temperatura.

Cerca de 1 a cada 7 crianças (330 milhões) estão estão altamente expostas a enchentes e 1 em cada 10 (240 milhões) a inundações costeiras, eventos que também devem piorar com o aumento da temperatura global.

O corte drástico de emissões é a solução para a subida de temperatura na Terra. Mas, como mostrou o mais recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima), mesmo nos cenários mais otimistas provavelmente teremos uma elevação de temperatura média da Terra superior a 1,5°C já até 2040, com impactos ambientais que devem se estender por séculos.

Segundo o relatório, são necessários investimentos robustos em adaptação e resiliência de serviços sociais, do contrário, as cerca de 4,2 bilhões de crianças que devem nascer nos próximos 30 anos enfrentarão problemas de bem-estar e acentuados riscos de sobrevivência.

Até mesmo investimentos básicos podem mudar consideravelmente a situação de parte dessa população infantil vulnerável. Por exemplo, melhorar o acesso à água, saneamento e higiene já reduziria consideravelmente o risco climático para 415 milhões de crianças.

“Os governos precisam garantir que as políticas ambientais levem as crianças em conta”, diz Henrietta Fore, diretora-executivo do Unicef, no começo do documento.

Greta Thunberg, Adriana Calderón, Farzana Faruk Jhumu e Eric Njuguna, jovens ativistas ambientais do Fridays For Future, movimento que deu origem a greves climáticas mundiais às sextas, assinam as páginas iniciais do documento.

“Nossos futuros estão sendo destruídos, nossos direitos violados e nossos apelos ignorados”, dizem. “A mudança climática é a maior ameaça que as crianças e jovens enfrentam no mundo.”


PRINCIPAIS CONCLUSÕES DO RELATÓRIO DO IPCC

  • Aumento de temperatura provocada pelo ser humano desde 1850-1900 até 2010-2019: de 0,8°C a 1,21°C
  • Os anos de 2016 a 2020 foram o período de cinco anos mais quentes de 1850 a 2020
  • De 2021 a 2040, um aumento de temperatura de 1,5°C é, no mínimo, provável de acontecer em qualquer cenário de emissões
  • A estabilização da temperatura na Terra pode levar de 20 a 30 anos se houver redução forte e sustentada de emissões
  • O oceano está esquentando mais rápido —inclusive em profundidades maiores do que 2.000 m— do que em qualquer período anterior, desde pelo menos a última transição glacial. É extremamente provável que as atividades humanas sejam o principal fator para isso
  • O oceano continuará a aquecer por todo o século 21 e provavelmente até 2300, mesmo em cenários de baixas emissões
  • O aquecimento de áreas profundas do oceano e o derretimento de massas de gelo tende a elevar o nível do mar, o que tende a se manter por milhares de anos
  • Nos próximos 2.000 anos, o nível médio global do mar deve aumentar 2 a 3 metros, se o aumento da temperatura ficar contido em 1,5°C. Se o aquecimento global ficar contido a 2°C, o nível deve aumentar de 2 a 6 metros. No caso de 5°C de aumento de temperatura, o mar subirá de 19 a 22 metros
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.