'Estamos cavando nossa própria cova', diz secretário da ONU na abertura da COP26

Conferência em Glasgow começa com discursos sobre urgência da crise climática

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Jordi Zamora Anna Cuenca
Glasgow (Escócia) | AFP

Líderes de mais de 120 nações se reúnem nesta segunda-feira (1º) em Glasgow pressionados para "salvar a humanidade" diante do desafio da mudança climática, nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres.

A reunião de cúpula de Glasgow acontece antes das negociações decisivas da COP26, a conferência sobre o clima da ONU. Um encontro que não pode se permitir fracassar, declarou em tom dramático o primeiro-ministro britânico e anfitrião, Boris Johnson.

"É hora de dizer basta", afirmou Guterres na abertura do encontro. "Chega de maltratar a biodiversidade. Chega de nos matarmos com o carbono. Chega de tratar a natureza como lixo. Basta de queimar, perfurar e minar cada vez em maior profundidade. Estamos cavando nossa própria cova", advertiu.

"Todas estas promessas não serão mais que blá-blá-blá", e "a raiva e a impaciência do mundo serão incontroláveis, a menos que façamos desta COP26 o momento em que abordamos seriamente a mudança climática", afirmou Johnson.

António Guterres é um homem idoso, de cabelos grisalhos, que veste terno preto; ele está em um púlpito
O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa durante a abertura da COP26, em Glasgow, na Escócia - Paul Ellis/AFP

A COP26 de Glasgow acontece após o cancelamento no ano passado, devido à pandemia da covid-19. O objetivo é avançar com o Acordo de Paris, assinado em 2015 e que estabeleceu como grande objetivo limitar o aquecimento do planeta a até +1,5ºC.

Diante da perspectiva de multitudinárias manifestações, previstas para os fins de semana, foi adotado um grande esquema de segurança.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que proclama o retorno do país às negociações sobre o clima, é o grande protagonista de uma reunião de cúpula de dois dias marcada pelas ausências do chinês Xi Jinping, presidente do país que mais emite gases poluentes, do russo Vladimir Putin e do turco Recep Tayyip Erdogan, que cancelou a viagem na última hora.

O enviado especial do governo americano para o clima, John Kerry, reafirmou sua determinação de agir para "sair de Glasgow com um aumento significativo da ambição global".

Apesar da ausência, o presidente chinês, Xi Jinping, transmitirá uma mensagem por escrito aos participantes.

O príncipe Charles discursou, em substituição à rainha Elizabeth II, de 95 anos, que está de "repouso" por recomendação médica.

O herdeiro da coroa britânica pediu às empresas que se unam ao esforço mundial.

"Precisamos de uma ampla campanha do tipo militar para reunir a força do setor privado mundial que dispõe de trilhões de dólares", frisou.

"Território desconhecido"

O presidente Jair Bolsonaro não participará da COP26, apesar de ter comparecido à reunião do G20, que terminou no domingo (31) em Roma.

A COP26 deve abordar os principais pontos do histórico Acordo de Paris, como o aumento dos compromissos de cada país para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o financiamento da luta contra a mudança climática e as regras de transparência e controle mútuo.

Ao todo, 196 partes assinaram o Acordo de Paris, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura do planeta a +1,5ºC. Mas a realidade é que a Terra segue rumo a um aumento de 2,7ºC e, com este número, o clima e os ecossistemas entram em um "território desconhecido", segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Emissão de 50 gigatoneladas

O mundo emite anualmente mais de 50 gigatoneladas de gases do efeito estufa, de acordo com cálculos da ONU. Uma gigatonelada representa um bilhão de toneladas.

"Nossos estudos indicam que acontecerá um aumento de emissões de 16% em 2030, quando deveríamos registrar uma redução de 45%", resumiu a secretária-executiva do organismo da ONU para a mudança climática, a mexicana Patricia Espinosa.

E, embora publicamente exista a consciência de que a situação deve mudar, ainda subsistem grandes dúvidas sobre o modelo energético alternativo.

As previsões de crescimento mundial representam uma enorme dúvida, admitem os especialistas.

Os países pobres pedem ajuda para mitigar, ou poderem se adaptar às consequências da mudança climática. Os países ricos prometeram US$ 100 bilhões por ano, quantia que já deveria ter sido repassada em 2020, mas faltam US$ 20 bilhões. As principais potências econômicas afirmam que o tema será solucionado em alguns anos.

A Aliança de Pequenos Estados Insulares denuncia as consequências "terríveis" que podem ocorrer em alguns anos, se o nível do mar continuar aumentando, como afirmam os cientistas.

"Parece que alguns não têm medo, ou pior, são indiferentes", declarou a negociadora do grupo em Glasgow, Lia Nicholson.

Discurso de brasileira

Txai Suruí discursou no evento de abertura com citações à urgência de agir.

"Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo", disse.

A ativista também mencionou o assassinato de defensores do meio ambiente.

"Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza", disse Suruí. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui."

O relatório mais recente da ONG Global Witness aponta que o Brasil é o 4º país com mais assassinatos de defensores ambientais. Os dados apontam para mais de 70% dos casos na Amazônia e metade deles tendo como alvo povos tradicionais indígenas e ribeirinhos.

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