Descrição de chapéu COP26 mudança climática

Governadores aproveitam omissão de Bolsonaro e buscam recursos na COP26

Grupo de 22 gestores estaduais lançaram consórcio nesta quinta (4) para receber fundos climáticos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Glasgow (Escócia)

Enquanto o governo federal é olhado com desconfiança pela diplomacia climática reunida na COP26, a coalizão Governadores pelo Clima, que reúne 24 estados brasileiros, aproveita a conferência para se reunir com países doadores e arrecadar recursos para projetos climáticos.

O grupo tem três governadores na conferência e já marcou agendas com doadores da França, do Reino Unido e da União Europeia.

Nesta quinta-feira (4), eles se reúnem com representantes da China e dos Estados Unidos e também devem ser recebidos, no final do dia, pelo príncipe Charles, herdeiro da coroa britânica, para discutir investimentos em clima.

Homens seguram faixa que diz 'Governadores pelo clima'
Reunião do grupo Governadores pelo Clima na COP26, em Glasgow, nesta quinta (4) - Divulgação

No último mês, o grupo havia apresentado ao enviado especial de clima americano, John Kerry, um conjunto de projetos de energias renováveis, reflorestamento, restauração de bacias hidrográficas e bioeconomia nas cinco regiões do país. A estimativa é arrecadar cerca de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) com o primeiro portfólio.

O grupo lançou, também nesta quinta (4), o consórcio Brasil Verde, que o habilita a receber dinheiro internacional com mais independência do governo federal.

O mecanismo ajuda a vencer parte da burocracia —que centraliza no governo federal o recebimento de recursos. Com o consórcio, doações podem chegar diretamente aos estados, mas recursos de financiamento ainda precisam ser aprovados pelo Tesouro Nacional.

O lançamento do consórcio na COP26 contou com a presença dos governadores Renato Casagrande (ES), Eduardo Leite (RS) e Mauro Mendes (MT), além do senador Jean-Paul Prates (PT-RN) e do secretário de meio ambiente e infraestrutura do estado de São Paulo, Marcos Penido.

"Tem algo de positivo na ausência do governo federal, que gera para nós a necessidade de mais mobilização", afirmou o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB).

"Nós não nos arvoramos a substituir o governo federal. A união é feita da soma das partes. Se não há dedicação da União, federal, então as partes estão se juntando", disse Leite.

"Nós compensamos em parte a ausência do governo nesse tema. Nossa movimentação aqui também levou o governo a ver esse ambiente político em torno e assumir compromissos importantes", afirmou Casagrande (PSB), do Espírito Santo.

Para o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), o anúncio de US$ 12 bilhões para florestas feito pelos países desenvolvidos no início da COP26 é insuficiente para a meta de zerar as emissões de carbono no mundo.

"Não é nada perto do que está em jogo neste momento. Vamos fazer nossos esforços, mas precisamos cobrar reciprocidade ambiental. Os países ricos devem reduzir a queima de combustíveis fósseis e comparecer financeiramente", disse Mendes.

Inspirada na articulação dos estados americanos feita durante a administração Trump, a coalizão Governadores pelo Clima foi criada pelo ambientalista Alfredo Sirkis logo após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em resposta às propostas antiambientais do governo federal —que chegou, a exemplo do ex-presidente americano, a cogitar a saída brasileira do Acordo de Paris.

Após o falecimento de Sirkis em julho do ano passado, seu filho, Guilherme Syrkis, deu continuidade à articulação, apelidada de paradiplomacia, pelo trabalho paralelo de representação do país nas relações internacionais.

"O surgimento de lideranças nacionais carismáticas que negam o aquecimento global abriu brechas para que governadores reafirmassem seus compromissos, fomentando o movimento paradiplomático em defesa do meio ambiente global", conclui Syrkis.

A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.