Ex-deputado Alfredo Sirkis morre no Rio em acidente de trânsito

Militante da causa ambiental e ex-presidente do PV, ele também participou da resistência armada à ditadura militar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

Morreu nesta sexta-feira (10), no Rio de Janeiro, o ex-deputado e ambientalista Alfredo Sirkis, 69. Ele foi vítima de um acidente de trânsito no Arco Metropolitano, na altura de Nova Iguaçu.

Por volta das 14h20, seu carro saiu da pista, colidiu em um poste e capotou. Sirkis morreu no local. A Polícia Civil realizou uma perícia na área, e o corpo foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para necropsia. As investigações apontam que o ex-deputado perdeu a direção do veículo.

Ligado à causa ambiental, Sirkis foi vereador por quatro mandatos, deputado federal, secretário de Urbanismo do Rio e candidato a presidente da República. Na juventude, Sirkis foi militante e participou de ações da guerrilha urbana contra a ditadura militar.

Carro no canteiro de uma estrada com a porta amassada
Carro do ex-deputado Alfredo Sirkis saiu da pista e capotou no Arco Metropolitano, no Rio de Janeiro - Reprodução/ PRF-RJ

Ele se envolveu, por exemplo, no sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em 1970. Em troca da libertação de Bucher, os guerrilheiros exigiram a soltura de 70 presos políticos.

Em entrevista à Folha em 2001, Sirkis lembrou do episódio e mostrou afeição ao embaixador, a quem deu um disco da cantora Joan Baez ao ir embora. "Foi uma síndrome de Estocolmo mútua", disse.

Em 1971, Sirkis foi para o exílio e morou no Chile, Argentina e França. Voltou apenas em 1979, com a Lei da Anistia.

Segundo o amigo e deputado estadual Carlos Minc (PSB), nesta sexta-feira Sirkis estava a caminho do sítio da família em Vassouras (RJ), onde encontraria a mãe e o filho.

"Nós, amigos, estamos devastados. O Alfredo Sirkis estava numa fase boa, envolvido em vários projetos de clima com governos e prefeituras. Se movendo bem, estava feliz, muito animado com o lançamento do novo livro", disse em vídeo.

Militante da causa ambiental e ex-presidente do Partido Verde, Sirkis havia acabado de lançar um livro no qual dizia ter cometido um “sincericídio” ao criticar esquerda e direita brasileiras.

Em “Os Carbonários”, Prêmio Jabuti de 1980, Alfredo Sirkis dissecou sonhos e mancadas da geração de 1968, quando ele tinha 18 anos e participou da resistência armada à ditadura militar.

Quarenta anos depois de sua obra-prima, o mesmo militante, há um bom tempo apaixonado pela causa ambiental, lança “Descarbonário”. Suas 442 páginas são outra aula de história do Brasil, desta vez sob o ponto de vista de um dos mais experimentados ativistas pelo clima do planeta.

Ele começou a escrever “Descarbonário” em 2016, quando a temperatura bateu recorde, e o concluiu no segundo ano mais quente, 2019. Participou de 11 COPs, a Conferência das Partes, órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Presidiu por 9 anos o PV nacional e é autor da "Lei Sirkis", que viabilizou o Fórum Global 92 na Conferência Rio-92.

A saga do “Descarbonário” termina na última semana de 2018, quando Sirkis deixou nas mãos do então presidente Michel Temer (MDB), em fim de mandato, o documento “Mudanças climáticas: riscos e oportunidades para o Brasil”.

Alfredo Sirkis, após entrevista à Folha em 2018
Alfredo Sirkis, após entrevista à Folha em 2018 - Pedro Ladeira - 6.set.18/Folhapress

Ele era secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, e o documento destinava-se ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, seu ex-colega da Câmara Municipal do Rio e da Câmara dos Deputados.

“Cheguei a acreditar que, uma vez sentado na cadeira presidencial, baixariam sobre Jair os eflúvios da responsabilidade e que, não obstante sua visão fascista e paranoide e das suas idiossincrasias, ele deveria se comportar como presidente de todos os brasileiros. Isso certamente não aconteceu", afirmou à Folha o autor.

"Passado um ano, sabemos que não acontecerá. O poder nitidamente piorou a pessoa”, completou Sirkis, que se identificava como “centrista radical” após transitar da esquerda armada ao secretariado do prefeito Cesar Maia, do DEM.

Na penúltima segunda-feira (29), Sirkis participou de uma da série de lives que estão sendo realizadas pela Folha durante a quarentena.

Na ocasião, argumentou que a mudança climática agrava todas as outras crises –a extinção de espécies, a desigualdade social e a questão de gênero.

Sirkis contou que se convenceu a priorizar a pauta climática durante o discurso de uma esquimó sobre o derretimento do gelo no Ártico, que tem como consequência direta a elevação do nível do mar e a inundação de cidades litorâneas.

“Eu comecei a pensar no Rio e nessa hora minha ficha caiu: a mudança climática não era mais um item de uma vasta agenda ambiental, mas o principal problema da humanidade.”

Em nota, o Observatório do Clima lamentou a morte de Sirkis. A trajetória do ativista será sempre uma inspiração para o movimento ambiental, afirmou a entidade, principalmente agora, "quando o Brasil precisa mais uma vez exorcizar o autoritarismo e lutar pela sustentabilidade".

"Para quem teve o privilégio de conviver com ele, o jornalista carioca deixa a lembrança de um bom humor inabalável, de uma verve memorável e de uma mistura única de erudição e informalidade", afirmou.

Erramos: o texto foi alterado

Alfredo Sirkis tinha 69 anos, e não 70, diferentemente do que foi registrado inicialmente pelo Corpo de Bombeiros do Rio. O texto já foi corrigido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.